Entrai na herança do Reino! (Mt 25,31-46)
Nós podemos viver nossa religião
como mendigos, tentando arrancar uma esmolinha de Deus, como se ele não fosse
realmente nosso Pai. O filho pródigo cometeu este engano: chegou a propor ao
Pai que o tratasse como servo da casa, como se fosse possível a um pai deixar
de ser pai...
Podemos viver nossa religião como
atletas, tentando exercitar os músculos das virtudes e, após longo treinamento,
vencer a olimpíada do espírito e subir no pódio, coroados com os louros
celestes. Com os anjos aplaudindo, é claro!
Podemos viver nossa religião como
alquimistas medievais, debruçados sobre velhos pergaminhos, em busca da pedra
filosofal. Uma vez dominado o secreto conhecimento das coisas divinas,
tomaremos posse do céu num piscar de olhos: pura mágica!
De uma forma ou de outra, estamos
longe da estrada real. Nem mendigos, nem recordistas, nem “iluminados”.
Cristianismo é outra coisa... O cristão – desde o seu Batismo – foi adotado
como filho. Já não é mais escravo. Nem mesmo simples criatura. Na estatura de
filho, o cristão tem direito à herança!
Lembra-se de Abrão e de sua
queixa ao Senhor Javé? Velho e sem herdeiros, sua herança acabaria nas mãos do
escravo que vivia em sua casa (cf. Gn 15,2). Mas, apesar da gemedeira do
ancião, Deus tinha outros planos, que incluíam uma numerosa descendência para
Abraão, culminando com o nascimento de Jesus.
Isto devia ser bem claro para
nós: somos herdeiros de Deus. Em Jesus Cristo, o Filho do Pai -
enxertados em seu corpo através da Eucaristia -, o que espera por nós é uma
herança que não se traduz absolutamente em valores materiais, objetos, terras e
rebanhos. Nossa herança é o próprio Senhor!
Mas nossa herança é típica,
diferente de todas as outras. Os outros herdeiros devem esperar a morte do pai
para terem acesso à herança. Em nosso caso, já não há nada a esperar. Afinal,
Jesus já morreu por nós. Isto quer dizer que podemos tomar posse da
herança desde já, aqui na terra, ainda que de modo parcial. Já é
possível viver nossa condição de herdeiros em nossos dia-a-dia, fruindo o amor
infinito que o Pai derrama sobre “todo homem que vem a este mundo”.
Se eu fosse Deus e Pai, ficaria
muito chateado com essa desesperada multidão de mendigos...
Orai sem
cessar: “O Senhor é minha
herança e minha parte na taça.” (Sl 16,5)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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