Quem poderá salvar-se? (Mc
10,17-27)
Os discípulos se assustaram. Daí
a pergunta inquietante. Nós também devíamos imitá-los. Camelos gordos,
dificilmente passaríamos pelo buraco da agulha. Até Jesus nos alertou: é impossível para os homens...
Meditemos no que nos diz o
teólogo e pastor Helmut Gollwitzer, autêntico profeta na resistência ao regime
nazista na Alemanha:
“Do ponto de vista humano, a
questão da vida eterna só poderia culminar em um fracasso, chocando-se ao muro
deste ‘impossível’! O destino ou as condições desfavoráveis da existência
humana nada têm a fazer com este fracasso: a impossibilidade em questão é ainda
mais grave. A falência do homem provém da servidão onde o acorrenta seu próprio
eu. Assim ele fecha para si mesmo o caminho da vida eterna.
Os discípulos tão bem
compreenderam o final do diálogo entre Jesus e um jovem rico, que eles estão
aterrorizados. E veem a si mesmos nesse impasse. Descobrindo a universalidade do julgamento de Jesus,
eles percebem a que ponto ainda estão acorrentados às riquezas desta vida.
Subitamente, o acesso ao Reino se revela para todos tão estreito quanto para os ricos dos quais Jesus nos fala
nesta parábola. Então, ergue-se a pergunta inquieta dos discípulos: quem poderá
ainda ser salvo? Pois a lei compreendida como um meio de salvação ou um
potencial humano de graça sempre bate de frente contra esse ‘impossível’.
Mas resta ainda uma possibilidade
maravilhosa. E Jesus a proclama abertamente. Não o faz mais sob a forma de uma
lei, sempre suscetível de falsas interpretações, mas sob a forma do Evangelho:
isto ‘é possível para Deus’. Tal é a realidade do Reino de Deus trazida por Jesus.
É na sua vinda que o ‘impossível’ dos homens se torna o ‘possível divino’. O
que a Lei não podia fazer, Deus o realizou ao enviar seu próprio Filho. Tendo o
homem fracassado diante do mandamento, Deus retoma agora em mãos a obra da
salvação. O sentido da Graça é agora esclarecido.”
Aí está: a salvação não é uma conquista.
É puro dom. Pura Graça! Não temos de arrombar as portas do céu a golpes de
aríete. Basta aceitar com simplicidade e gratidão filial aquilo que o Pai nos
oferece em seu Filho.
Ah! Tenho ouvido tantas pregações
pelagianas, que nos conclamam ao esforço, à disciplina moralizante, à superação
de nossas más tendências, como se isto dependesse apenas de nosso voluntarismo!
Faz-se absoluto silêncio sobre a ação interior do Espírito Santo em nós. E o
espectro do “impossível” ronda nosso coração cada vez mais...
Orai sem cessar: “Quando eu for erguido da terra, atrairei todos a mim!” (Jo 12,32)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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