Deixamos tudo... (Mc 10, 28-31)
Então, amigo Pedro, vocês
deixaram tudo por Jesus... Tudo, mesmo? Ora, eu sei muito bem o que vocês
deixaram... Uma barca velha, cansada de vogar. Umas redes podres, que vocês
viviam remendando (cf. Mc 1,19). Um lago pobre, que só dava peixes quando o Mestre
fazia milagres (cf. Lc 5,5-7; Mt 17,27; Jo 21,6-8). Grande coisa vocês
deixaram!!!
Bem, não devo exagerar: reconheço
que deixaram também o velho pai e por certo romperam com certas garantias.
Levi-Mateus deixou sua “produtiva” coletoria de impostos. Mesmo assim, que bela
vantagem vocês levaram! Entre Jesus e “tudo”, vocês não tinham mesmo que
hesitar...
Você se lembra de Paulo de Tarso?
Após conhecer Jesus na estrada de Damasco, também ele abriu mão de tudo para
seguir o Mestre: pátria, raça, a Lei, a cidadania. Lembra suas palavras? “Todas
essas coisas, que para mim eram ganhos, eu as considerei como esterco por causa
de Cristo!” (Fl 3,7)
Desde esse dia, à margem do lago,
vocês levaram vida de peregrinos, quase uns mendigos, palmilhando as estradas
da Palestina poeirenta. Mas valeu a pena ser mendigo de coisas e ter o coração
cheio de amor, não é?
Aliás, foi pensando nisso que
escrevi meu soneto “O Mendigo Feliz”:
Nada tenho de meu. Nada de mim.
Meu derradeiro asse – meu seguro –
Caiu das minhas calças pelo furo
E do bolso rolou pelo jardim.
Assento-me
no banco, entre o jasmim
E
a roseira de hálito tão puro,
Que
estende suas flores sobre o muro,
Sangrando
no cimento o seu carmim...
Sou mendigo. Assento-me na praça
Para esperar – quem sabe? – o Amor que passa
E traz a esmola humilde que eu nem quis...
Apenas
um mendigo sem um nome,
Mas
se o Amor me vem matar a fome,
Posso
morrer... Mendigo, mas feliz...
Orai sem cessar: “De todo o meu coração eu te procuro, Senhor!” (Sl 119,10)
Texto e poema
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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