terça-feira, 4 de março de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Deixamos tudo... (Mc 10, 28-31)
               Então, amigo Pedro, vocês deixaram tudo por Jesus... Tudo, mesmo? Ora, eu sei muito bem o que vocês deixaram... Uma barca velha, cansada de vogar. Umas redes podres, que vocês viviam remendando (cf. Mc 1,19). Um lago pobre, que só dava peixes quando o Mestre fazia milagres (cf. Lc 5,5-7; Mt 17,27; Jo 21,6-8). Grande coisa vocês deixaram!!!
               Bem, não devo exagerar: reconheço que deixaram também o velho pai e por certo romperam com certas garantias. Levi-Mateus deixou sua “produtiva” coletoria de impostos. Mesmo assim, que bela vantagem vocês levaram! Entre Jesus e “tudo”, vocês não tinham mesmo que hesitar...
               Você se lembra de Paulo de Tarso? Após conhecer Jesus na estrada de Damasco, também ele abriu mão de tudo para seguir o Mestre: pátria, raça, a Lei, a cidadania. Lembra suas palavras? “Todas essas coisas, que para mim eram ganhos, eu as considerei como esterco por causa de Cristo!” (Fl 3,7)
               Desde esse dia, à margem do lago, vocês levaram vida de peregrinos, quase uns mendigos, palmilhando as estradas da Palestina poeirenta. Mas valeu a pena ser mendigo de coisas e ter o coração cheio de amor, não é?
               Aliás, foi pensando nisso que escrevi meu soneto “O Mendigo Feliz”:
Nada tenho de meu. Nada de mim.
Meu derradeiro asse – meu seguro –
Caiu das minhas calças pelo furo
E do bolso rolou pelo jardim.
               Assento-me no banco, entre o jasmim
               E a roseira de hálito tão puro,
               Que estende suas flores sobre o muro,
               Sangrando no cimento o seu carmim...
Sou mendigo. Assento-me na praça
Para esperar – quem sabe? – o Amor que passa
E traz a esmola humilde que eu nem quis...
               Apenas um mendigo sem um nome,
               Mas se o Amor me vem matar a fome,
               Posso morrer... Mendigo, mas feliz...

Orai sem cessar: “De todo o meu coração eu te procuro, Senhor!” (Sl 119,10)

Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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