O Esposo lhes será tirado... (Mt
9,14-15)
Os discípulos de João Batista
viviam uma vida ascética, a exemplo de seu Mestre. Já os discípulos de Jesus,
ainda que pobres, formavam um bando bastante informal e alegre, sempre disposto
a se reunir em torno de uma mesa. O próprio Jesus confessa: “Desejei
ansiosamente comer esta ceia convosco!” (Lc 2,15.) Os adversários vão dar-lhe o
rótulo de beberrão e comilão (cf. Lc 7,34).
Entre os hebreus, o jejum costumava
ser um sinal de luto. Os contemporâneos do Rei Davi estranharam quando ele
interrompeu seu jejum logo após a morte do filho que tivera com Betsabé (cf.
2Sm 12,21). Daí a resposta de Jesus quando os discípulos de João vão até ele,
perguntando por que seus discípulos não jejuavam: é que o Esposo estava com
eles e durante as bodas ninguém faz jejum.
A primeira lição, para nós, é que
Jesus é o Esposo. A Igreja é a noiva, que ele deverá encontrar sem mancha e sem
ruga. A cena das Bodas de Caná tem sido interpretada pelos exegetas como uma
espécie de antecipação do Banquete do Cordeiro. A fartura de vinho aponta nessa
direção.
A segunda lição, menos agradável,
é que o Esposo nos pode ser tirado. No caso dos discípulos, isto aconteceu
quando Jesus foi crucificado e morto. As lágrimas de Pedro, de Madalena e das
santas mulheres compunham o cenário. Mas a mesma experiência foi vivida pelos
cristãos sob perseguição nazista ou comunista, na Alemanha ou no Camboja. Era
como se lhes tivessem roubado o Esposo.
E nada garante que também nós não
passaremos por isso. A crescente invasão do paganismo em todas as esferas da
vida social e política, aliada ao desprezo e às agressões cometidas pela mídia
capitalista contra as tradições do povo cristão – tudo sugere que os cristãos
podem transformar-se em uma minoria indesejável e incômoda para os novos pagãos
que se multiplicam.
Não precisamos esperar por isso
para jejuar. Podemos começar nosso jejum por aqueles que já são perseguidos,
como nossos irmãos do sul do Sudão e da nova China, presa preferencial de
ativistas muçulmanos e dirigentes comunistas.
Um jejum de alimentos, sim. Mas
também um jejum de televisão, de programas mundanos, de lazeres que dissipam a
alma. E acima de tudo, um jejum de pecado. Porque de nada adianta fazer jejum e
continuar apegado aos mesmos pecados de sempre...
Orai sem
cessar: “Aquele que eu amo, não o vistes?” (Ct 3,3)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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