terça-feira, 10 de outubro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Andas inquieta... (Lc 10,38-42)

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            Imagino que Dona Marta tenha muitas qualidades. Muitas virtudes, sem dúvida. Marta é “trabalhadeira”, ativa, está em toda parte. Marta tem mãos de fada na costura e no bordado. Marta é uma excelente cozinheira. Sua casa é um brinco, sem um grão de poeira - dizem as comadres! Mas não é por isso que Marta merece repreensão...

            Bem que ela poderia parar um pouquinho, às vezes, e sentar-se para ouvir o Mestre. Mas ela teme por sua imagem: “Que é que vão dizer?” Assim, Marta precisa manter o seu padrão de qualidade aos olhos dos outros. Se vier a interromper sua luta, poderão chamá-la de preguiçosa. E isso, para ela, é intolerável...
            Seu pecado maior é a agitação. “Andas inquieta com muitas coisas” - observa o Mestre, abanando a cabeça. Na tradução latina de S. Jerônimo: “turbaris erga plurima”. É o excesso de atividades que a deixa perturbada. Sem paz no coração, como acolher a visita do Senhor?
            Neste ruidoso início de milênio, mergulhados até o pescoço em uma sociedade ativa e consumista, muitas pessoas têm sido valorizados por aquilo que, no fundo, é um vício, e não uma virtude: a agitação. Mesmo em plena vida eclesial, ressurge a velha heresia do pelagianismo, que imagina poder salvar (e salvar-se!) à custa de esforço, boa vontade e mangas arregaçadas, sem depender humildemente da graça de Deus. Critérios típicos do mundo socioeconômico - produtividade, eficiência, sucesso – não deixam espaço para a escuta do Espírito que fala aos corações.
            Imersos em clima obviamente herético, corremos o risco de centrar em nossas atividades (ou na agitação?) o foco de nossa vida. Em decorrência disso, valoriza-se menos (ou até se despreza...) a oração, a contemplação, a intimidade com a Palavra de Deus. Matriculados na escola de Marta, estes valores passam a ser considerados como “perda de tempo”.
            Seria bom olhar em volta e verificar quantos “agentes de pastoral” acabaram vencidos pelo desânimo e pela estafa exatamente por falta do alimento interior que teriam encontrado na vida de oração. Seria imprudência repetir os mesmos erros.
            E como disse Jesus, “Maria escolheu a melhor parte”...

Orai sem cessar: “Mantenho em calma e sossego a minha alma.” (Sl 131,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.

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