Andas inquieta... (Lc 10,38-42)
Imagino que Dona Marta tenha muitas
qualidades. Muitas virtudes, sem dúvida. Marta é “trabalhadeira”, ativa, está
em toda parte. Marta tem mãos de fada na costura e no bordado. Marta é uma excelente
cozinheira. Sua casa é um brinco, sem um grão de poeira - dizem as comadres!
Mas não é por isso que Marta merece repreensão...
Bem que ela poderia parar um
pouquinho, às vezes, e sentar-se para ouvir o Mestre. Mas ela teme por sua imagem:
“Que é que vão dizer?” Assim, Marta precisa manter o seu padrão de qualidade
aos olhos dos outros. Se vier a interromper sua luta, poderão chamá-la de
preguiçosa. E isso, para ela, é intolerável...
Seu pecado maior é a agitação.
“Andas inquieta com muitas coisas” - observa o Mestre, abanando a cabeça. Na
tradução latina de S. Jerônimo: “turbaris erga plurima”. É o excesso de
atividades que a deixa perturbada. Sem paz no coração, como acolher a visita do
Senhor?
Neste ruidoso início de milênio,
mergulhados até o pescoço em uma sociedade ativa e consumista, muitas pessoas
têm sido valorizados por aquilo que, no fundo, é um vício, e não uma virtude: a
agitação. Mesmo em plena vida eclesial, ressurge a velha heresia do
pelagianismo, que imagina poder salvar (e salvar-se!) à custa de esforço, boa
vontade e mangas arregaçadas, sem depender humildemente da graça de Deus.
Critérios típicos do mundo socioeconômico - produtividade, eficiência, sucesso
– não deixam espaço para a escuta do Espírito que fala aos corações.
Imersos em clima obviamente
herético, corremos o risco de centrar em nossas atividades (ou na agitação?) o
foco de nossa vida. Em decorrência disso, valoriza-se menos (ou até se
despreza...) a oração, a contemplação, a intimidade com a Palavra de Deus.
Matriculados na escola de Marta, estes valores passam a ser considerados como
“perda de tempo”.
Seria bom olhar em
volta e verificar quantos “agentes de pastoral” acabaram vencidos pelo desânimo
e pela estafa exatamente por falta do alimento interior que teriam encontrado
na vida de oração. Seria imprudência repetir os mesmos erros.
E como disse Jesus,
“Maria escolheu a melhor parte”...
Orai sem
cessar: “Mantenho
em calma e sossego a minha alma.” (Sl 131,2)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.
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