Pão nosso... (Lc 11,1-4)
Sim, o Pai é nosso, ensinou Jesus.
Mas não parou aí. Segundo o Mestre de Nazaré, também o pão é nosso. E o
grande escândalo acontece quando aqueles que se dizem irmãos - têm o mesmo Pai!
– não podem comer do mesmo pão. Enquanto alguns desperdiçam, muitos passam
fome...
Não foi assim no começo. A leitura
do livro dos Atos dos Apóstolos revela um estado de coisas bem diferente:
“Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de
coração...” (At 2,46b.) “Não havia entre eles nenhum necessitado... Repartia-se
a cada um deles conforme a sua necessidade.” (At 4,34-35.) Por que será que as
coisas mudaram. Quando será que se perdeu esse sentimento de fraternidade? Como
teríamos aprendido a comungar do Pão eucarístico, lado a lado com nosso irmão
que passa fome?
Uma vez, um jovem francês foi
questionado por colegas sem fé, que lhe perguntavam onde estava a caridade dos
cristãos. Frederico Ozanam, esse jovem, decidiu dar uma resposta ao desafio.
Algum tempo depois, fundaria a Sociedade São Vicente de Paulo, hoje espalhada
por todo o mundo, levando um pedaço de pão e uma cesta básica a milhões de
deserdados do sistema.
Ao escolher Vicente de Paulo como
patrono, Ozanam se inspirava em outro homem de Deus, um simples sacerdote que
sabia atrair a amizade dos ricos (sem ameaçá-los com o fogo do inferno) e
jeitosamente tirava dos mais abastados aquelas moedinhas que alimentariam os
sem-pão. Ao longo da história da Igreja, numerosos homens e mulheres viveram em
profundidade essa vocação de distribuir o pão, semear a esperança, irradiar o
saber. Fundadores como Dom Bosco, José de Calasanz, Joana de Lestonnac, Paula
Montal, Dom Orione e, recentemente, Madre Teresa de Calcutá, compreenderam que
não podiam guardar para si mesmos os dons que o Pai celeste destinara a todos.
Estes santos – canonizados não pelos
milagres que fizeram, mas pelo “milagre” que eles foram – compreenderam em
profundidade o sentido do “pão nosso”, sem o qual desmentimos o “Pai nosso”.
Afinal, que Pai é esse, que dá a alguns com sobra e, ao mesmo tempo, deixa a
multidão faminta?
Com certeza, também o Pai deve
chorar, quando vê o destino de seus dons: alguns filhos morrem de fome,
enquanto outros devoram o pão de seus irmãos...
Orai sem
cessar: “Não
desvies o rosto do pobre!” (Sr 4,4)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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