Todos são convidados para o grande
banquete. O festim é grátis, é pura graça. O povo chama isto de “boca livre”. É
o tipo de oportunidade que ninguém rejeita.
Por isso mesmo, o grupo que cerca a grande mesa do festim não
chega a ser “gente fina”, não é “vip”. Ao contrário, por ordem expressa do Rei,
os “convivas” foram arrastados de todas as encruzilhadas do mundo, ainda
cobertos da grossa poeira dos caminhos humanos. Nenhum deles foi convidado
devido a algum mérito ou distinção especial. Afinal de contas, o que importa é
que a mesa esteja bem cheia, entende o Dono da festa!
Como entender, então, que um dos
convidados acabe lançado fora, na escuridão da noite, por não trajar a veste
apropriada? Não parece um contrassenso? André Louf tem sua explicação:
“Nós temos chance de estar entre os
eleitos, mesmo sendo pecador, com a condição de vestir, não um costume aqui de
baixo, por mais belo que seja, mas a verdadeira, a única vestimenta das núpcias
do Reino.
Qual é, afinal, este traje nupcial?
São Paulo no-lo diz: é a veste nova do homem novo, criado em Jesus Cristo. Ele
é Jesus Cristo. Precisamos despojar-nos inteiramente do home velho e de suas
pretensões, como uma roupa usada, e revestir, como uma roupa estalando de nova,
o próprio Jesus Cristo, a humildade de sua cruz e a força de sua ressurreição.
O rei só tolera entre os convivas – sejam eles bons ou maus, não importa –
aqueles que apresentam os traços de seu Filho. Aqueles que aceitam ser eleitos
e bem-amados no único Eleito e único Bem-Amado: Jesus.”
E quais são os traços de Jesus? – pergunta
a seguir o abade de Mont-des-Cats. E ele mesmo responde, apoiado em São Paulo:
“Como eleitos de Deus e seus bem-amados, revesti-vos de terna compaixão, de
bondade, humildade, doçura, paciência; perdoai-vos mutuamente; o Senhor vos
perdoou”. O rosto de Jesus é a doce piedade, a misericórdia sem fim por nossos
irmãos.
Sim, misericórdia “puxa”
misericórdia. A caridade gera a caridade. O convite traz o imperativo de um
despojamento do homem velho e do “revestimento” do Filho do Rei. Depois de
termos sido chamados, só seremos escolhidos na medida de nossa identificação
com o próprio Filho de Deus.
Orai sem
cessar: “O que
conta é ser nova criatura!” (Gl 6, 15)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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