Faze isto e viverás! (Lc 10,25-37)
Neste
Evangelho, Jesus dialoga com um doutor da lei, isto é, um judeu especialista
nos textos mosaicos, conhecidos como a “Torah”. O “legista” pergunta sobre o
necessário para ter como herança a vida eterna. Jesus devolve-lhe a pergunta: -
“O que está escrito na Lei?” Se Jesus de Nazaré não fosse tão educado, poderia
ter dito: “Ora, você tem doutorado na Lei e não sabe a resposta?”
Mas o
interlocutor, de fato, conhece bem seu texto. Prontamente ele repete o
“Shemah”, recitado diariamente por um israelita fiel. E ali está o preceito de
amar ao Senhor Deus de todo o coração [cardía],
com toda a alma [psichê], com toda a
inteligência [dianoia]. Um amor
total, totalizante. E Jesus, antes de narrar a bela parábola do “bom
samaritano” – exatamente um não judeu que pratica a “Shemah” de Israel! -,
aponta ao doutor da lei: - “Faze isto e viverás!”
Aqui está o
nosso problema: não podemos alegar ignorância da vontade de Deus. Desde a
infância, os pais e mestres nos transmitiram as mesmas palavras: “amar a Deus
sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. Os Evangelhos – outrora
restritos a raros pergaminhos – estão hoje publicados em centenas de idiomas, à
disposição de todos. E exatamente por não ignorar os mandamentos, não temos
como justificar seu descumprimento.
Em pauta, a
neurose entre o conhecimento e a prática. E a resposta de Jesus deixa claro que
não basta o conhecimento (como ensinavam os gnósticos) para chegar à salvação,
mas é preciso dar o salto da teoria à prática, da letra ao espírito.
Assim, penso
entender a mente daqueles que fogem do Evangelho como o diabo foge da cruz: é
preferível manter-se na ignorância do que viver em permanente estado de culpa
por não cumprir os preceitos já conhecidos. É como se gritassem: - “Não me
ensinem o caminho, porque já decidi não caminhar por ele!” E não deixam de
manifestar certo infantilismo, como o jovem que dá as costas para não ouvir o
conselho do pai...
Uma
consciência reta quer, sim, conhecer a Lei de Deus. E deseja esse conhecimento
para, na obediência, pô-lo em prática e demonstrar seu amor por Aquele que nos
dá a Lei. Afinal, um filho jamais irá considerar os preceitos paternos como um
fardo, mas como preciosa âncora de salvação.
Orai sem cessar: “Senhor, faze-me viver nos teus
caminhos!” (Sl 119,37)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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