Por causa do homem... (Mc 2,23-28)
Sim, o
sábado foi feito por causa do homem. Afinal, Deus não se cansa, não precisa
repousar, não precisa do sábado. O “sétimo dia” – o shabbat, uma pausa
após seis dias de trabalho – foi dado ao homem pelo Criador para ritmar sua
vida neste planeta, alternando o tempo de trabalho (quando o homem corre o
risco de se mudar em escravo) e o tempo de descanso, de culto e de ação de
graças (quando o homem recupera sua condição de liberdade).
Ora, toda a
Lei foi feita “por causa do homem”. Na tradução latina de São Jerônimo, “propter
hominem”. Todo mandamento do Decálogo visa ao bem da pessoa humana,
impedindo que seja roubada, assassinada, abandonada pelos filhos, fraudada,
dominada por falsos deuses ou transformada em besta de carga.
Onde a Lei é
abolida (no regime socialista soviético, no regime nazista alemão ou no
capitalismo selvagem), os homens são escravizados, tratados como anônima massa
de mão-de-obra, impedidos de prestar culto a Deus, transformados em bucha de
canhão. Sem a Lei de Deus, perdemos a liberdade.
Isto vale
também como freio para excessos cometidos sob a aparência de “religião”, como
nas seitas que proíbem a transfusão de sangue com base em uma leitura
fundamentalista da Escritura. A Igreja Católica, ao mesmo tempo que preserva o
Dia do Senhor, sempre entendeu que há certas atividades, essenciais para a vida
social que não podem ser interrompidas mesmo no Domingo, como o trabalho os
médicos de plantão, dos motoristas dos coletivos etc. Aliás, o Domingo é
exatamente o dia em que os sacerdotes estão mais ocupados em seu trabalho e nem
por isso quebram o mandamento de guardar o Shabbat. (Cf. Mt 12,5.) Do
mesmo modo, enfermos e idosos ficam dispensados do preceito da missa dominical.
A religião
deve ser libertadora. Não pode ser reduzida a uma camisa-de-força, uma espécie
de molde rígido onde as pessoas devem entrar espremidas, forçadas, engessadas.
Do contrário, corremos o risco do farisaísmo, quando as aparências são
mantidas, mas o coração fica longe de Deus. Tal como os fariseus do tempo de
Jesus, que declaravam “corban”, isto é, consagrados a Deus, os bens que
possuíam, para assim ficarem desobrigados de socorrer os próprios pais em suas
necessidades.
E minha
vida? Também é “por causa do homem”?
Orai sem cessar: “Por meus irmãos e meus amigos, digo:
‘Reine
a Paz sobre ti!’” (Sl
122,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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