Atiravam-se sobre ele para tocá-lo... (Mc 3,7-12)
Esta
passagem do Evangelho mostra claramente a atração que Jesus de Nazaré exercia
sobre as multidões: todos queriam tocá-lo. Os evangelistas registram que o
contato físico com Jesus era ocasião de curas físicas e libertações
espirituais.
Além
daqueles episódios em que Jesus tocou o corpo de alguém com a intenção
deliberada de curá-lo – como o surdo-mudo de Mc 7,33, quando o Senhor enfiou os
dedos em seu ouvido e tocou sua língua com a própria saliva -, houve casos em
que a cura aconteceu com o contato sem que Jesus esperasse por ele. Foi assim que
a mulher com hemorragia (cf. Mc 5,25ss) se aproximou por trás e tocou-lhe o
manto, sendo prontamente curada de uma enfermidade que durava doze anos. No
final do capítulo 6º, São Marcos registra que os doentes eram trazidos a Jesus na
esperança de, pelo menos, tocarem a franja de seu manto, sendo então curados.
Esta
constatação nos leva a considerar as consequências da encarnação do Verbo de
Deus. Agora, nascido de Mulher, o Verbo tem um corpo que faz “contato” direto com
nossa humanidade. O Deus inacessível, transcendente, puro espírito, põe-se ao
nosso nível, oferecido ao toque de nossas mãos. Ele não faria assim se nós, os
humanos, não tivéssemos necessidade deste contato direto...
A
experiência de Deus não se resume a uma fé quimicamente pura, que dispense a
via sensorial. Não admira que os sacramentos da Igreja incluam uma “matéria”
que apela aos sentidos: o vinho vermelho, a água fria, o óleo perfumado... Após
a encarnação do Verbo, a Graça se destina também aos nossos corpos mortais.
Isto nos
permite compreender a atração que os santos sempre exerceram sobre as
multidões, que não se contavam em ouvi-los, mas os cercavam na expectativa de
tocá-los. Foi o caso de Dom Bosco, nos últimos anos de sua vida, quando sua
presença em cidades da França tornavam as ruas intransitáveis pelo acúmulo de
fiéis.
Há outra
consequência disso: o cristão, portador de Cristo, deve estar pronto a fazer
“contato” com os outros, levando a eles não apenas o som das palavras, mas uma
convivência mais próxima, a exemplo de Jesus, que se assentava à mesa com os
pecadores e jamais fugiu ao toque de suas mãos...
Orai sem cessar: “Todos que o tocaram ficaram curados...” (Mt
14,36b)
Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica
Nova Aliança.
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