domingo, 3 de março de 2013

PALAVRA DE VIDA


 Eu vi a opressão de meu povo! (Ex 3,1-8a.13-15)
            O Senhor estava de tocaia junto à sarça que ardia no sopé do Monte Horeb. Em regiões áridas e desérticas, é bem comum a combustão espontânea, quando matéria orgânica começa a queimar-se subitamente. Moisés conhecia o fenômeno. Desta vez, porém, era diferente: a moita de capim queimava prolongadamente, além do normal, e o pastor se aproximou para verificar o que acontecia...
            É quando o Senhor diz a Moisés uma autêntica declaração de amor ao povo de Israel, que sofria a escravidão sob o Faraó do Egito. Notável é a sequência de verbos: “Eu vi... Ouvi... Conheço... Desci... para fazê-lo subir...” Ao contrário do que se ouve aqui e ali, Deus não é cego: vê o drama de seu povo. Deus não é surdo: ouve os gritos de angústia. Deus não ignora a realidade: conhece nossa humana condição. Deus não permanece indiferente em algum etéreo Olimpo, mas desce até nossa planície.
            A seguir, como sempre acontece na História, quando Deus percebe uma necessidade humana, é o momento da “vocação”: E Moisés recebe a sua vocação pessoal e intransferível: “Vai, pois! Eu te envio a Faraó!” Aquele que é chamado pode tentar espernear, apresentar desculpas e pretextos, mas o chamado já foi ouvido. É pegar ou largar!
            É também o momento de repassar nossa história pessoal e verificar que os acontecimentos passados – inclusive aqueles que pareciam aleatórios ou fruto de um destino mau – estiveram sempre penetrados de sentido. O chamado de Deus põe esse sentido oculto em relevo.
            No caso de Moisés, desde a mamadeira o menino fora separado de sua família e criado pela filha de Faraó. Isto fez de Moisés um ser culturalmente híbrido, um homem-anfíbio: além da alma hebraica, que pulsava em suas veias, Moisés assimilou a cultura dos dominadores, seu idioma, sua visão de mundo. Assim, passados tantos anos, é Moisés quem recebe a vocação de estabelecer uma ponte entre os dois povos e – mais profundamente – entre o Senhor do Céu e o pequeno senhor da terra, Faraó. Missão e cruz, Moisés seguirá adiante, até que seus olhos cansados possam ver, ao menos de longe, a Terra Prometida.
            Qual é o chamado de Deus para mim? Meu passado já foi iluminado por ele?
Orai sem cessar: “O Senhor conduz sozinho o seu povo!” (Dt 32,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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