Não vos preocupeis... (Mt 6,24-34)
Sim, a ocupação é necessária. Não a
pré-ocupação! Sofrer hoje o problema de amanhã. Temer agora o sacrifício
futuro. Contemplar os noticiários e perguntar: “Que será de meus netos?”
E não se trata apenas de uma atitude
mental negativa. A falha fundamental do pré-ocupado é a íntima falta de
confiança em um Deus que é Pai. Exatamente o mesmo Pai que alimenta os pardais
e veste os lírios do campo.
Permitam-me breve testemunho. Quando
deixei o magistério, após 25 anos de trabalho, convicto de que Deus me chamava
a evangelizar em tempo integral, não me preocupei com aposentadoria,
recolhimento ao INSS, plano de saúde ou equivalente.
De início, foram dez anos inteiros
sem salário nem renda fixa. Nossa família vivia absolutamente do que caísse do
céu. Este “maná” incluía anônimas bolsas de supermercado cheias de alimentos em
nossa varanda. O amigo que enfiava um envelope no meu bolso, dizendo que Deus
havia enviado. A amiga que dava uma mesada para nossa filha. Os Padres Escolápios,
ex-patrões, que nos cobravam um aluguel muito abaixo dos valores de mercado...
O fato é que nesse período os dois
filhos fizeram faculdade e se formaram. Só a partir do undécimo ano é que
assumi uma atividade remunerada, ainda que no campo da evangelização. Nada nos
faltou de essencial, em uma vida simples, sóbria e feliz. Foi assim, aprendendo
na prática que Deus nos sustenta quando fazemos sua vontade, que nos
convencemos da realidade da Providência divina.
Passo a palavra a Isaac, o Sírio
[Séc. VII]: “Não devemos desejar antes da hora aquilo que está fora de nosso alcance,
para não tornar inútil a graça de Deus, recebendo-a depressa demais. Tudo o que
é recebido com facilidade também pode perder-se rapidamente. Tenha sede de
Cristo, a fim de que ele te embriague em seu amor. Fecha teus olhos diante das
delícias desta vida, a fim de que Deus permita à paz reinar em teu coração.
Abstém-te das coisas que teus olhos veem para seres digno da alegria
espiritual”.
Como diz Jesus, “são os pagãos que
se preocupam com tudo isso”. (Mt 6,32) O paganismo é um mundo de órfãos. Já o
caminho cristão é uma experiência de filiação, na intimidade com o Pai. Sejamos
filhos...
Orai sem cessar: “Confia ao Senhor a tua sorte!” (Sl 37,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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