E ficaram todos admirados... (Lc 1,57-66.80)
É
claro que eles tinham bons motivos para ficarem admirados! Engravida e dá à luz
uma mulher idosa e estéril. O pai fica mudo, depois de visitado por um anjo. A
mãe escolhe o nome do filho, quando tal tarefa cabia ao pai. Estamos diante de
uma autêntica revolução! Que menino seria aquele?!
A
admiração só iria crescer com o passar do tempo, quando o jovem João se
retirasse para o deserto, vestido com o cinturão de couro dos profetas, e
acabasse acompanhado por numerosos discípulos e procurado por incontável
multidão, atenta ao anúncio de um Reino que se aproximava. (Mt 3,4ss.) A
admiração, mesclada a uma dose de medo, chegaria ao palácio de Herodes, para
quem os brados do Batista soavam como chicotadas. Seria ele o Messias?
Não.
Não era ele o Messias, mas a voz que clama no deserto (cf. Is 40,3). Sua missão
era aguardar que surgisse ali, na margem do Jordão, Aquele que iria batizar no
fogo e no Espírito. Então, João apontaria um longo indicador – como na tela de
Matthias Grünewald – e bradaria bem alto, para todos ouvirem: “Eis o Cordeiro
de Deus, a vítima que tira o pecado do mundo!”
Cumprida
esta missão, já podia ser preso e degolado. Importava que Jesus crescesse e ele
fosse diminuído. Se até aqui admirávamos o perfil ascético e a extrema ousadia
de João, agora devemos admirar a sua humildade.
Pena
que nós tenhamos perdido a capacidade de nos admirar das obras que Deus realiza
em nossas vidas. Assim como o povo judeu, cuja história registrava portentosas
intervenções de Deus em seu favor, também nós acabamos “vacinados” diante da
ação divina... É como se Deus, enfim, tivesse a obrigação de gerar novas vidas,
mandar mais chuvas, manter os astros em suas órbitas. É como se tudo fosse...
“natural”...
Cada
criança que nasce deveria levar-nos a mirar, remirar e admirar a obra do Deus
da vida, que insiste em nos dar filhos e filhas. Cada nova estação, cada nova
sementeira e cada nova colheita despertariam nosso louvor e nossa ação de
graças. Deus permanece fiel. Seus dons não se esgotam. Dá-nos força para a
missão. A vida faz sentido.
Ao
celebrar a natividade de João Batista (o único natalício celebrado pela
Liturgia, além dos de Jesus e Maria), deveríamos fazer uma pausa para
contemplar as maravilhas de Deus em nossa própria vida. E nos perguntar sobre a
missão que o Senhor reservou para nós. Estamos sendo fiéis à nossa missão?
Orai sem cessar: “O Senhor deu-me a
língua de um discípulo.” (Is 50,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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