Não tenho ninguém... (Jo 5,1-16)
Um dos enfermos sofria de seu mal há
38 anos. Os especialistas no judaísmo veem nessa cota (38) o símbolo da
imperfeição, da coisa incompleta, em oposição ao número 40, medida de uma
experiência completa, com início, meio e fim. Tal como os 40 dias do dilúvio,
os 40 anos de caminhada pelo deserto, os 40 dias que Jesus jejuou no deserto. E
Jesus comparece para levar o imperfeito à perfeição, curando o enfermo e
completando a sua cota. Mas não antes de acontecer o pungente diálogo entre o
Rabi da Galileia e o homem abandonado a seu mal. Diante da pergunta de Jesus –
“Queres ficar são?” -, o pobre responde com sua miséria: “Não tenho ninguém que
me lance na piscina, quando a água se agitar; e enquanto vou, outro desce antes
de mim.”
A frase desse homem cabe a milhões
de habitantes do mundo. Milhões aos quais é negada a oportunidade do primeiro
lugar. Gente que se apresenta sempre que o banquete acabou. Nem as migalhas
sobram para eles... Mas nem todos ficam surdos a esse clamor! Aqui e ali,
alguém ouve o grito – “Não tenho ninguém!” – e sente o coração rasgar-se,
dispondo-se a amar aqueles que ninguém ama. E não falo apenas de Teresa de
Calcutá entre mendigos, nem de Damião de Molokai entre leprosos. Não penso
apenas em Dom Orione com seus moleques de rua, nem no Dr. Schweitzer com seus
nativos congoleses.
Penso na multidão anônima de
cristãos e não-cristãos que decidiram amorosamente orientar a sua vida para aquele
que não tem ninguém. Jovens das comunidades novas a evangelizar os moradores de
rua, mocinhas de família rica que abrem mão de ter uma família própria para
cuidar das crianças do orfanato. Leigos que invadem o inferno humano das
penitenciárias para ali plantar uma sementinha do Evangelho. Os médicos que
socorreram as vítimas do Ebola e... morreram com eles...
Nem todos são surdos. Nem todos são
cegos. Ainda há gente que tem coração...
Orai sem
cessar: “Eis-me aqui!” (Gn 22,1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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