O vosso coração se alegrará... (Jo 16,20-23a)
A Criação é
alegre. Rios e cascatas, auroras e luar, lagos e pradarias – tudo irradia luz e
cor e sons e melodias. No largo oceano, o balé jocoso dos golfinhos e a ciranda
das anêmonas e medusas.
A sociedade
é triste. Gente tensa e apressada, ônibus superlotados, carnavais que acabam em
cinzas. O rugido dos motores e o gemido das buzinas. Em cima do muro, cacos de
vidro e arame farpado. Dentro do lar, a solidão.
A comunidade
cristã é alegre. Aceso o círio pascal, ela entoa um perene Hallelujah ao Cristo
ressuscitado. Nada que Jesus não tivesse prometido em sua despedida dos
discípulos. É uma alegria que vem após as dores e as angústias do parto (cf. v.
21), inseparável da vida nova que se experimenta. “Eu vos verei novamente, e o
vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria.” (Jo 16,22)
Claro,
existem diferentes “alegrias”. Cá em baixo, a alacridade ruidosa das maritacas roendo coquinhos na palmácea. Uma
alegria apenas epidérmica, associada ao barulho de palmas e foguetes. Um pouco
acima, o júbilo do peregrino que
avista a cúpula dourada do Templo, nas montanhas de Judá, e entoa o Hallel (Sl
122,1). Mais alto, o gáudio dos
pastores, aos quais o anjo da madrugada anuncia o nascimento do Menino (Lc
2,10).
Mas muito
mais alta – e muito mais profunda! – a silenciosa letícia do bebê adormecido no seio da mãe (Sl 131,2). Esta alegria
– a verdadeira alegria! – não depende de luzes e neon, dispensa música e
fantasias, não se apoia em palmas e coreografias. Irmã gêmea da paz, esta
alegria transforma a própria morte em um regresso ao lar...
Como conquistá-la?
Qual o seu preço? Nem pense em comprá-la. Não é conquista. É puro dom... O Deus
pródigo e feliz a reparte com fartura entre os bem-aventurados.
Certa vez,
eu pregava em uma paróquia do interior de Estado de São Paulo. Em dado momento,
citei a conhecida passagem paulina: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito:
alegrai-vos!” (Fl 4,4) Subitamente, um senhor se levantou no fundo do salão e
protestou. Era o pároco local! Segundo ele, não era possível alegrar-se em um
mundo cheio de injustiça e desigualdade. O conselho de Paulo era impossível de
ser seguido.
Ouvi-o até o
fim. Depois, retomei a palavra e disse apenas: “Bem, não é exatamente por esses
motivos que nós nos alegramos. É apesar
disso tudo que nos alegramos, na certeza de que o Ressuscitado está no meio
de nós...
Orai sem cessar: “Devolve-me, Senhor, a alegria de ser
salvo!” (Sl 51,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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