Teu Pai, que vê o escondido... (Mt 6,1-6.16-18)
Ah! Os olhos do Pai... Nada escapa
ao seu olhar!
Pena que esta visão onisciente de
Deus tenha sido usada para impor medo e terror! Na escola primária, anos 50, nossas
aulas de religião consistiam unicamente em copiar um desenho que a professora
fazia no quadro negro. Lembro-me claramente de um deles: um muro, logo atrás uma
casa, e mais no fundo uma árvore carregada de frutas maduras; dois moleques
pulavam o muro e, no alto, erguia-se um grande triângulo com um olho no centro.
Era o olho de um Deus vigilante, pronto a punir e castigar os
pecados infantis. Detalhe: todos os desenhos, o ano inteiro, traziam o mesmo
triângulo ameaçador...
A frase implícita – “Deus me vê” –
ficava sempre incompleta. Ninguém nos dizia: “Deus me vê e... me ama!” Ninguém
se lembrava de citar a Sagrada Escritura: “Senhor, vós me perscrutais e me
conheceis... vós me cercais por trás e pela frente, e estendeis sobre mim a
vossa mão... Vós me tecestes no seio de minha mãe...” (Salmo 139)
O olhar do Pai, que vê em segredo,
enxerga o que sou e o que posso ser. Deus olha o pecador atual e o santo
possível. E aqui está o ponto central deste Evangelho: Deus não se perde em
aparências. Ele não gasta tempo com gestos exteriores, mas penetra o âmago do
ser.
Conclusão: precisamos pedir a graça
de olhar o mundo com os olhos de Deus. Contemplar o horizonte das nações, o cenário
do Brasil, as pedras de nossa rua, sentindo – e re-sentindo – o mesmo amor
cuidadoso e responsável que pulsa no coração do Pai.
A partir daí, iremos pouco a pouco
libertando-nos de uma religião apenas aparente, feita de gestos sem alma,
cumpridos apenas para... “cumprir”... Não uma religião de “preceitos” e normas,
mas uma vida de amizade com Deus e serviço ao próximo.
Com os olhos de Deus, veremos
presídios e escolas como campos de missão, paróquias e fábricas como
sementeiras do bem, diplomas e títulos como ferramentas do amor.
Com os olhos do Pai, não julgaremos
ninguém pela aparência, pela roupa surrada, pelo esmalte descascado, pelo
calcanhar rachado. Olhos de Pai veem filhos em toda parte...
Orai sem cessar: “Senhor, todos os olhos se dirigem
para vós!” (Sl 145,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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