Viverá eternamente... (Jo 6,51-58)
O narrador é Dom Claude Rault, Bispo
do Saara argelino:
“Há muitos anos, um religioso que convivia com os moradores
de um bairro muçulmano, em uma cidade do Paquistão, tinha sido detido e
encarcerado devido a uma denúncia falsa.
Sua prisão iria durar muitos meses. Sendo o preso um leigo
consagrado, não podia ali celebrar nem receber a Eucaristia. Era seu vizinho,
um muçulmano de condição humilde, que regularmente levava-lhe a Comunhão em um
envelope:
- Toma! – disse-lhe o muçulmano na primeira vez. Trago para
ti o pão que te faz viver!
E o homem comprometeu-se a fazer regularmente esse vai e vem
da paróquia cristã até a prisão. Ele sabia que aquele alimento era vital para
seu amigo. E isto é tudo!”
Assim fica mais fácil entender o “discurso eucarístico” de
Jesus, com as palavras que tantas vezes soam aos nossos ouvidos dispersos como
uma lenda piedosa: “Eu sou o pão vivo que desci do céu. Quem comer deste pão
viverá eternamente”. (Jo 6,51)
A oferta gratuita de Jesus, que
tanto escandalizou seus ouvintes (cf. Jo 6,60.66), é dar sua carne em alimento.
Fazer-se alimento para ser assimilado e penetrar no metabolismo místico de sua
Igreja. Depois de receber como dom amoroso o sangue humano de sua Mãe, Jesus
deseja agora que participemos de uma transfusão vital, sem a qual a Igreja não
passaria de um corpo inerte, sem vida, sem dinamismo para a missão.
O Filho de Deus se fez carne para
que nossa humanidade seja transfigurada em idêntica encarnação. E aqui percebo
o salto de qualidade entre um primata qualquer e os filhos de Deus que o Filho
alimenta com seu Corpo e Sangue.
Na solenidade de Corpus Christi, a Igreja é desafiada não
só a crer na “presença real” de Cristo nas espécies consagradas, mas também a
deixar-se consagrar e transfigurar através da participação no banquete
eucarístico. Graças à Comunhão, saltando da Liturgia para a vida, Cristo pode
contemplar a Igreja e repetir as palavras de Adão (Gn 2,23): “Carne de minha
carne... ossos de meus ossos...” E acrescentar: “Sangue de meu sangue...”
Orai sem cessar: “O Senhor lhes enviou pão com
fartura.” (Sl 78,25)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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