Por um lado,
os discípulos manifestam arroubos de entusiasmo, ao afirmarem que “agora, sim”
acreditam na divindade de Jesus. Por outro lado, o Mestre contrapõe que em
breve tempo eles fugirão e o deixarão sozinho, acompanhado apenas pelo Pai. Mas
Jesus sabe que é necessário animar seus frágeis seguidores. Daí, as palavras de
estímulo: “Coragem! Eu venci o mundo!”
Não é
preciso muita criatividade para imaginar a cara de decepção e desânimo desses
mesmos discípulos quando, logo a seguir, Jesus se deixa prender, torturar e
crucificar. Afinal, onde estava a decantada vitória sobre o mundo? Se eles
tinham esperado por um sucesso pronto, total, acabado, enganaram-se por
completo. Ainda que o grão de trigo já traga em seu íntimo toda a colheita, era
preciso morrer primeiro...
E este é o
ensinamento do Concílio Vaticano II, vazado em prudência e realismo, no Decreto
Presbyterorum Ordinis (sobre o ministério e a vida dos sacerdotes):
“Aliás, o Senhor Jesus, que disse: Tende confiança, eu venci o mundo,
não prometeu por essas palavras à sua Igreja uma vitória total no mundo. De
fato o Sacrossanto Sínodo alegra-se de que a terra coberta com a semente do
Evangelho agora frutifique em muitos lugares sob o sopro do Espírito do Senhor,
que enche o orbe terrestre [...]”. (PO, 22.)
Isto pode
explicar que, ainda hoje, em muitos lugares, o príncipe deste mundo esteja
recebendo honras indevidas: provavelmente, alguém esperou por milagres e
economizou trabalho... O Espírito de Deus não encontrou pés para caminhar,
vozes para falar, mãos prontas para agir. O Evangelho encontrou as portas
fechadas porque alguém não quis suar a camisa. E a vitória de Cristo sobre o
mundo permanece incompleta!
Um risco que
sempre ameaçou a vida da Igreja é o triunfalismo. A inclinação natural a
comemorar vitórias e hastear bandeiras antes da hora. E ignorar que estaremos
em combate até a Vinda do Senhor, quando afinal – e só então! - o último
inimigo será vencido (1Cor 15,26) e Deus “enxugará toda lágrima” de nossos
olhos. (Cf. Ap 21,4.)
Tenho
consciência de que a luta continua? Ou estou soltando foguetes antes da hora?
Orai sem cessar: “O Senhor é a força de seu povo!” (Sl 28,8)
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