Entre os doutores, interrogando-os... (Lc 2,41-51)
Foi isto que Maria viu, ao encontrar
o jovem Jesus após três dias de angustiosa procura: alguém que interroga.
Passados vinte séculos, Jesus
continua interrogando. Não como um juiz em busca de indício que incrimina, mas
como um farol que ilumina os passos hesitantes de uma humanidade desgarrada.
A primeira interrogada foi a própria
Mãe: “Por que me procuráveis? Não sabíeis?...” (Lc 2,49) Nem ela, nem José, pai
putativo, compreenderam a interrogação do filho. Mas teriam longos anos para
refletir, meditar, digerir essa incômoda pergunta.
Muita gente olha para Jesus em busca
de respostas. Hão de encontrar perguntas: “Que procurais?” “Queres ficar
curado?” “Quantos pães tendes?” “Quem dizeis que eu sou?” “Ninguém te
condenou?” “Por que choras?” “Tu me amas?”
Como observa François Trévedy, “mais
profundamente ainda, Jesus se coloca no meio de nós como a Pergunta irredutível
e inevitável”. Podemos definir nossa vida como o tempo que nos foi dado para
responder, co-responder à interrogação que Jesus É em nossa história pessoal. E cada pessoa deve encontrar sua
própria resposta, pois ela é única. A resposta de cada santo não pode ser
repetida ao pé da letra, mas deve nos levar à certeza de que uma resposta é
possível...
O Verbo que se fez carne não é
apenas uma declaração no modo Indicativo. É, antes, uma interrogação que
atravessa os tempos, grava marcas nos séculos e abre feridas no coração dos
santos. Os estigmas e as transverberações são dardos do Verbo que interroga.
Alguns respondem com amor, como Francisco e Teresa. Outros se negam a
responder...
O mundo sem espírito recusa
respostas. Só o Espírito sabe o que está no coração do Filho. Só ele ausculta
os corações dos filhos. É nesse Espírito que podemos acolher as interrogações
que abalam nossas seguranças e viram nosso mundo de cabeça para baixo,
transformando as certezas em poeira ao vento.
Os “doutores” deste Evangelho
ficaram de queixo caído diante do jovem Jesus. Não tanto pelas respostas que
ele dava, mas pelas perguntas que ele fazia. Do alto de sua sabedoria, viam-se
diante de interrogações que jamais ousaram fazer...
Orai sem cessar: “Chama por mim e eu te
responderei!” (Jó 13,22)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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