Não
matarás!
(Mt 5,20-26)
Não somos salvos pelo mérito de
nossas obras exteriores. A “justiça” dos fariseus, verberados por Jesus,
consistia tão-somente em observar a Lei em seus mínimos detalhes, de modo a
“merecer” a salvação, mas seu interior não correspondia às aparências externas.
Como disse o poeta, pode haver grande distância entre intenção e gesto. Deus
observa o coração do homem e conhece suas artimanhas...
No Evangelho de hoje, Jesus
exemplifica esta contradição das atitufes humanas com o 5º mandamento: “Não
matarás!” E mostra que pode haver uma gradação, uma espécie de “escada do
ódio”, com vários degraus. Irar-se contra o irmão, chamá-lo de imbecil (raca,
entre os semitas) ou de doido, são formas civilizadas de “matar”. Parecem
pecados menos graves, mas o ódio é o mesmo!
No dia-a-dia, nossos relacionamentos
oferecem seguidas oportunidades de amar. São situações que se abrem ao perdão,
à compreensão, à paciência, mas podem derivar para a condenação, a rejeição, a
agressividade. Uma pessoa honesta e educada pode conter-se e evitar reações
explosivas ou ofensivas, mas, ao mesmo tempo, alimentar no coração projetos de
vingança, desejar prejuízos para os outros e, mesmo, alegrar-se com seus
insucessos. Apesar da honestidade exterior e da polidez aparente, o ódio mortal
corre pelas artérias...
Um caso concreto da atualidade é a
reação das pessoas diante dos imigrantes provenientes de países em crise
econômica, ambiental ou política. O cristão não pode vê-los como “invasores”,
mas como irmãos à espera de acolhida e auxílio. Por isso mesmo, o episcopado
tem exortado os católicos a demonstrarem a caridade cristã para com eles.
Há muitas formas de matar. Mata quem
calunia o justo, quem joga lama na reputação dos outros, quem propagam
escândalos com requintes de sadismo. Mata-se ao sabotar o trabalho dos
companheiros, ao negar o reconhecimento a seus esforços, ao pagar salário de
fome aos empregados. Pode-se matar semeando dúvidas sobre questões de fé,
incentivando a revolta contra Deus e a Igreja, oferecendo ocasiões de pecado
aos que convivem conosco. Matamos pelo mau exemplo, pela má palavra, pelo mau
conselho. Matamos por omissão diante daquele a quem podíamos ajudar.
Sentimentos, palavras e atos: três
degraus para amar ou odiar. Se o ódio cresce em nós, irá progredindo de
silêncios para antipatias, de reservas para a formação de partidos, de
acusações a campanhas de difamação, de confrontos ao assassinato. Mas o ódio é
o mesmo...
Que sentimentos inspiram meus
pensamentos, municiam as minhas palavras, movem as minhas ações? Ódio ou amor?
Orai sem cessar: “Perdoa-nos as nossas dívidas,
como
também perdoamos aos nossos devedores.” (Mt 6,12)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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