A
traça e a ferrugem...
(Mt 6,19-23)
No “Google” imagens, vejo uma série de fotografias do navio “Titanic” no fundo do mar. O espetáculo
impressiona: corrimões roídos pela água salgada, fileiras de porcelana fina,
garfos com os dentes quebrados, garrafas de vinho ainda arrolhadas, uma hélice
atacada pela corrosão, um pedaço de âncora...
Estas imagens falam por si. Remetem
a sonhos e ilusões, símbolos de poder e de riqueza, ao lado da falência de
nossa arrogância e de nossas seguranças. Estas imagens entoam uma ode à ruína
humana. No fundo do abismo, o alegre salão de festas transformou-se em túmulo
frio.
No Evangelho de hoje, Jesus vem
contrastar os tesouros do céu e os tesouros da terra. Estes valores terrenos,
pelos quais tantos dedicam laboriosamente todo o esforço e toda a vida, têm
como sua marca natural a efemeridade: eles não duram. Para acentuar a ilusão de
posse que nos ronda, Jesus cita três agentes dos quais ninguém consegue
escapar: a traça, a ferrugem e os ladrões.
Não quer dizer que os “bens” materiais
não tenham valor. O que está em questão é o risco iminente de ter o coração
apegado a eles e, em consequência, tornar os olhos da alma velados para os
valores eternos. A relação do homem com os “bens” torna-se uma relação de
serviço, semelhante à relação do súdito com seu imperador.
Ora, a adesão plena a um “patrão”
deste planeta – seja ele o dinheiro, a fama ou o poder - torna a alma incapaz
de servir livremente a Deus. A frase que ilumina todo o contexto é de fato
radical: “Ninguém pode ser vir a dois senhores”. (Mt 6,24) A opção por um deles
implica a rejeição do outro. Não outra escolha: ódio ou amor!
Por isso mesmo, a alguém que
pretendia segui-lo, Jesus advertiu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus
bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e
segue-me”. (Mt 19,21) Esta frase de Jesus está na origem dos chamados
“conselhos evangélicos”, que se concretizam, para os consagrados, nos votos de
pobreza, castidade e obediência.
Qual seria o sentido desse “despojamento”
voluntário? Sem dúvida, a liberdade. A experiência vivida por Francisco de
Assis e proposta aos seus seguidores era, acima de tudo, um convite àquele alto
grau de liberdade que torna possível o serviço incondicional ao Senhor de todos
os senhores.
E o apóstolo João arremata: “O mundo
passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre”. (1Jo 2,17)
Francisco, Teresa, Hélder... Eles
escolheram bem...
Orai sem cessar: “Senhor, fora de ti não tenho bem algum!” (Sl 16,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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