Pediram que fosse embora... (Mt 8,28-34)
Ora, ora, ora... O Pai nos envia seu
Filho único, que nasce de Mulher, vive entre nós e passa a curar os enfermos e
a libertar os possessos; diante disso nós lhe pedimos que... vá embora!?
Em outros termos, estamos dizendo a
Jesus Cristo: “Deixe-nos em paz com nossas doenças e com nossos demônios! Não
venha revirar nossa vida de cabeça para baixo!”
Ali estavam dois homens possuídos
por demônios, vivendo de forma bestializada entre túmulos de um cemitério.
Todos achavam isto “natural”. Mas ficaram furiosos quando a legião de demônios
passou para o rebanho de porcos que se lançou no abismo. Este prejuízo já não
era “natural”....
Que coisa! O mundo permanece o mesmo
que Jesus conheceu! Nós estamos tão adaptados ao nosso inferno social – com
rapinas e violência, propinas e exploração, doenças que dão lucro e escravidões
convenientes -, que vemos as propostas do Evangelho como uma ameaça
inaceitável...
Assim comenta Hébert Roux: “Seja
como for, a libertação dos dois infelizes torna-se, para os habitantes da
região, uma verdadeira catástrofe!” De fato, saíra caro demais o exorcismo dos
dois endemoninhados, que culminou com a morte de 2.000 porcos (cf. Mc 5,13). “O
gesto de Jesus, aos olhos deles, reveste-se do aspecto de uma agressão à sua
tranquilidade e a seus bens. Pela primeira vez, Jesus faz o papel de uma pessoa
indesejável.”
O Evangelho relata uma rota
descendente na missão de Jesus: da admirável fé do centurião, passando pelo
espanto da multidão admirada, chegamos agora à hostilidade e à recusa, prelúdio
do ódio que se anuncia – observa H. Roux. É preferível ficar com nossas
loucuras e nossas neuroses do que dar acolhida a um tipo que vem perturbar a
desventura à qual já estamos acostumados.
“A partir do momento em que Jesus
intervém com excesso de precisão e remexe com a tranquilidade ordinária de
nossa existência, vale mais mantê-lo à distância, pois jamais poderemos dormir
tranquilos com ele.” De fato que garantia de sossego podemos ter quando os
loucos se tornam sábios e os porcos se arremessam ao mar?!
Incômodo, intrometido, agitador...
Jesus Cristo continua o mesmo...
Orai sem
cessar: “Eis que
estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei e
cearemos juntos.” (Ap 3,20)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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