Coragem, filho! (Mt 9,1-8)
Neste Evangelho, Jesus de Nazaré vem
agraciar duplamente um homem enfermo: no plano espiritual, perdoa-lhe os
pecados; no plano físico, cura-o da paralisia. E é a primeira vez que vemos
Jesus anunciar o perdão dos pecados.
Cabe uma primeira interrogação: que
é que paralisa um homem? Alguma coisa roubou-lhe o dinamismo, impediu-lhe os
movimentos, prendeu-o a uma padiola. Sem ânimo, já não pode mover-se. Por isso
mesmo, Jesus o convida a sair do desânimo, a recobrar a força interior:
“Coragem!”
Tudo indica que a imobilidade
exterior está ligada a um travamento interior, de modo que o coração [cor, cordis,
em latim] já se entregou à inércia, e é preciso reanimar o coração: coragem!
E nada é mais capaz de travar um
coração do que o pecado, aquela profunda ferida que o pecador faz contra si
mesmo, cortando o contato com a fonte da vida, com a graça de Deus. Por isso
mesmo, o médico Jesus começa do interior o processo de cura, perdoando os
pecados que serviram de gatilho para todo o imobilismo.
Devemos, porém, prestar atenção no
tipo de relação que se estabelece entre o enfermo e seu Médico. Jesus se dirige
a ele com um vocativo especial: “Coragem, filho!” Não se trata da relação –
tantas vezes fria e impessoal – do curador com seu paciente. Jesus assume o
papel que sempre viu na ação de seu Pai, aquele que faz chover sobre justos e
injustos, e cujo anseio é que “todos se salvem” (cf. 1Tm 2,4).
E é com sentimentos paternais que
Jesus o chama de “filho”. O paralítico não é “mais um” em uma lista de
pacientes, não é um número no prontuário, não é parte de uma estatística, mas
um “filho” que esteve à distância do amor do Pai e, agora, é reintegrado na
dinâmica do amor divino.
Existe algo que remexe com as
entranhas de Jesus. E ele vê essa presença naqueles que lhe trazem o doente: a
fé. Só após notar essa aposta, esse salto no escuro que estavam realizando,
Jesus se apresta a agir e libertar.
É notável o contraste entre o grupo
de escribas ali presentes e os quatro amigos (cf. Mc 2,3) que descem o
paralítico pelo teto da casa. Aqueles não creem no perdão concedido debaixo de
seus olhos e julgam Jesus como um blasfemador que realiza algo exclusivo de
Deus: o perdão dos pecados. Estes esperam pelo impossível... e serão atendidos
em sua fé.
Orai sem
cessar: “O Senhor está perto de quem tem o
coração ferido...”
(Sl 34,19)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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