Vinho novo, odres velhos... (Mt 9,14-17)
Quando lecionei no Curso Técnico de
Química, aprendi que determinado ácido devia ser acondicionado em frascos de
barro, pois ele corroía o vidro. Os fabricantes de perfume se esmeram ao
escolher o recipiente para suas essências, dando-lhes um ar de nobreza e
refinamento.
Também no Oriente, não se guardava o vinho novo em qualquer tipo
de odre. O couro ressequido de um odre já usado não resistiria à expansão dos
gases de um vinho novo, ainda em fermentação. Acabaria rompido, perdendo-se o
vinho e o cantil.
É um sinal de sabedoria encontrar o vaso certo para o
conteúdo que vamos guardar. Quando surgiram os primeiros grupos de oração de
linha carismática, muitos erros foram cometidos, na sofreguidão de derramar o
vinho novo do Espírito, mas sem levar em conta o ressecamento da vida
paroquial. Não admira que fossem tantas e tão graves as rejeições
experimentadas...
Equívoco semelhante ocorre quando se tenta transmitir a
catequese e a doutrina para fiéis (crianças, jovens ou adultos) que ainda não
ouviram o querigma, o primeiro anúncio do Evangelho. Que sentido faz para um
jovem ouvir falar de sacramentos antes de experimentar em sua vida a presença
única de Jesus? Antes de fazer uma opção pessoal pelo único Salvador de nossas
vidas?
É preciso levar em conta a relação
entre os vasos e seu conteúdo. Paulo sabia disso, ao contrastar o barro humano
e a Graça divina: “Trazemos esse tesouro [a luz em nossos corações] em vasos de
barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e
não de nós”, (2Cor 4,7) Ninguém devia iludir-se e superestimar sua própria
natureza!
Olhando à nossa volta, vemos vários
setores da Igreja claramente petrificados, mumificados, sem vida e sem
movimento. Odres velhos, não? Ao contrário, conheço paróquias vivas, pulsantes,
irradiantes, onde foi derramada a água viva do Espírito, renovando previamente
os corações que deveriam – depois! – acolher e transmitir a Boa Nova. Ali se
experimenta, agora, o vinho novo, borbulhante e capitoso.
Procissões, novenas, tríduos,
cavalgadas, práticas repetidas ao longo de décadas, sem que seus participantes
acordem para fome do pobre, para a solidão dos idosos, para a ruína das
famílias. Quando virá o fogo do céu?
Orai sem
cessar: “Vem, ó Espírito, dos quatro ventos!” (Ez 37,9)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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