À mesa com Jesus... (Mt 9,9-13)
Ainda não encontrei alguém que me
explicasse por que motivo passamos a traduzir a presença na comunhão
eucarística como um sinal de “dignidade”. Seria preciso “merecer” para comungar
o Corpo do Senhor.
Ora, será que ninguém presta atenção
ao que rezamos? “Senhor, eu não sou digno...” São as palavras do centurião
romano (cf. Mt 8,8), notável ato de fé, naquele dia fora do alcance dos
conterrâneos do próprio Jesus!
Quando participamos da mesa da
Eucaristia, fazemos parte da mesa de Jesus. E isto é uma honra para todos nós.
Quando os publicanos e pecadores se sentaram à mesa com Jesus – Evangelho de
hoje -, sua presença foi considerada uma desonra para o Mestre de Nazaré. É que
sentar-se à mesa com alguém significa situar-se no mesmo nível do anfitrião.
Entrar em comunhão com ele. Dize-me com quem comes, e te direi quem és...
Ora, os publicanos eram judeus que,
sob a ocupação romana na Palestina, prestavam-se ao servicinho sujo de cobrar
os impostos que seriam repassados aos dominadores. Não é preciso grande esforço
de imaginação para adivinhar os apelativos com os quais eram tratados por seus
compatriotas. Além do mais, o fato de estarem em permanente contato com os
“cães” romanos, os publicanos eram considerados ritualmente “impuros”, isto é:
anátemas, intocáveis...
Pior ainda: Jesus chegou ao extremo
de convidar um deles – Levi/Mateus – para integrar o seleto grupo dos Doze. Mal
ouviu aquele imperativo convite – Segue-me!
-, o publicano abandonou seu telônio e seguiu o Mestre. E achando que a ocasião
merecia bem uma comemoração, organizou um banquete em sua casa, com a presença
de seus colegas de profissão.
Os judeus mais “religiosos” – os
fariseus que se julgavam superiores, traziam fragmentos da Lei em suas
filactérias e rezavam de pé nos portais do Templo (onde seriam vistos por todos
os passantes), aproveitaram a ocasião para condenar em alta voz o comportamento
nada canônico do Galileu.
Não somos muito diferentes... Ainda
hoje os cidadãos mais honestos sentem grande dificuldade em entrar em se
aproximar dos decaídos do sistema, como os presidiários, os mendigos, os
drogados e os que exercem outras atividades menos nobres... Corremos o risco de
nos julgarmos superiores a eles, ignorando que qualquer coisa boa em nossa vida
é, no fundo, pura graça de um Deus bondoso.
Orai sem cessar: “Senhor, preparas uma mesa para mim...”
(Sl 23,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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