Vosso acusador será Moisés! (Jo 5,31-47)
É claro que a argila humana está
exposta à corrupção. A consciência humana pode degradar-se. Mesmo assim, não
poderemos alegar o desconhecimento do bem. Como escreve São Paulo (Carta aos
Romanos 1, 16ss), os pagãos que viveram antes do Evangelho também foram
visitados por Deus, que lhes falou através das perfeições visíveis da Criação.
Transviados, adoraram a criatura em lugar do Criador. A idolatria foi o
prelúdio da degradação moral. “Embora conheçam o veredicto de Deus, que declara
dignos de morte os que cometem tais ações, eles não se limitam a praticá-las,
mas aprovam ainda os que as cometem.” (Rm 1,32)
Neste Evangelho, Jesus não se dirige
a pagãos, mas aos judeus de seu tempo, os depositários da revelação de Deus por
meio dos profetas e patriarcas. Alvo das preferências do Senhor, aquele povo
recebera na montanha do Sinai a própria Lei de Deus. Sua responsabilidade era,
pois, acrescida.
Por isso,
sua recusa em acolher o Messias manifestava ao mesmo tempo a falta de amor, o
apego à glória humana e a deturpação dos textos sagrados, jogando no lixo todos
os testemunhos a eles oferecidos: o testemunho de João, os sinais e milagres de
Jesus e mesmo as promessas da Primeira Aliança.
Também nós, herdeiros da Nova e
Eterna Aliança, podemos mergulhar no mesmo abismo, se nos apegamos ao rótulo de
“filhos de Deus”, mas não agimos na obediência própria desta condição. Como os
judeus daquele tempo, corremos o risco de vestir a capa de superioridade,
apegar-nos a ritos de pureza, à excelência do culto, e esquecer o essencial em
nossa relação com Deus e o próximo: o amor que dá a vida pelo outro. Cremos que
Jesus Cristo virá a julgar os vivos e os mortos. E se alguém o recusa como juiz
e Senhor, não faz mal: com as tábuas da Lei debaixo do braço, Moisés em pessoa
fará o seu trabalho...
Orai sem
cessar: “O Senhor julgará o seu povo!” (Hb 10,30)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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