Escrever no chão... (Jo 8,1-11)

Arrastam
diante de Jesus uma jovem noiva flagrada em adultério e – em óbvia armadilha
lançada para o Mestre – perguntam-lhe se devem aplicar a Lei mosaica, segundo a
qual deviam apedrejar até a morte a mulher infratora (mas também seu
companheiro de pecado, que não foi acusado nem levado ao tribunal! Cf. Lv
22,10).
A
Lei fora entregue a Israel através de seu líder Moisés, num cenário de terror e
tremor, entre trovões, relâmpagos, sons de trombeta e montanhas fumegantes (ver
Ex 20,18-21). Os dez mandamentos foram gravados a fogo pelo Dedo de Deus, em duas
tábuas de pedra. Na pedra fria, inorgânica, a legislação indelével, os ásperos
decretos.
Agora,
quando a jovem indefesa é cerda por um bando de abutres sedentos de sangue,
Jesus se debruça para escrever no chão. É o pátio do Templo, entre a muralha do
pátio dos gentios e a muralha do pátio dos judeus. Ali, todos os dias, caminha
uma multidão. Seus passos moem o solo e fabricam uma areia fina. É nessa areia
leve que Jesus grava os pecados dos próprios acusadores.
Da
pedra para a areia, uma notável evolução. Em tempos de Nova Aliança, Deus nos
convida a passar da fria aplicação da Lei mortal para uma nova condição onde é
possível soprar a areia e, com o suave sopro da misericórdia, apagar os pecados
do mundo.
Fica
para trás aquela mentalidade segundo a qual devíamos “pagar” pelos pecados. Vem
Jesus Cristo – o Cordeiro cujo sangue “a-paga” o documento que o acusador
erguia contra nós (cf. Cl 2,14) e já não há nenhuma condenação contra os que
foram lavados em seu sangue (cf. Rm 8,1).
Salva
da matilha dos juízes transformados em réus, a jovem ouve de Jesus: “Vai, e não
peques mais!”
Orai sem cessar: “A armadilha quebrou, recuperamos a
liberdade!” (Sl 124,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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