segunda-feira, 18 de março de 2013

PALAVRA DE VIDA


 Escrever no chão... (Jo 8,1-11)
            O mesmo Evangelho nos é proposto pela Igreja em dois dias sucessivos. A mesma cena. O mesmo episódio. Um tribunal improvisado no pátio do Templo de Jerusalém, o único edifício do mundo onde (pensavam os israelitas) Deus era o morador, na penumbra do Santo dos Santos, junto da Arca da Aliança e do propiciatório. Ali, na sombra, o Sumo Sacerdote penetrava, uma vez por ano, para oferecer um sacrifício.
            Arrastam diante de Jesus uma jovem noiva flagrada em adultério e – em óbvia armadilha lançada para o Mestre – perguntam-lhe se devem aplicar a Lei mosaica, segundo a qual deviam apedrejar até a morte a mulher infratora (mas também seu companheiro de pecado, que não foi acusado nem levado ao tribunal! Cf. Lv 22,10).
            A Lei fora entregue a Israel através de seu líder Moisés, num cenário de terror e tremor, entre trovões, relâmpagos, sons de trombeta e montanhas fumegantes (ver Ex 20,18-21). Os dez mandamentos foram gravados a fogo pelo Dedo de Deus, em duas tábuas de pedra. Na pedra fria, inorgânica, a legislação indelével, os ásperos decretos.
            Agora, quando a jovem indefesa é cerda por um bando de abutres sedentos de sangue, Jesus se debruça para escrever no chão. É o pátio do Templo, entre a muralha do pátio dos gentios e a muralha do pátio dos judeus. Ali, todos os dias, caminha uma multidão. Seus passos moem o solo e fabricam uma areia fina. É nessa areia leve que Jesus grava os pecados dos próprios acusadores.
            Da pedra para a areia, uma notável evolução. Em tempos de Nova Aliança, Deus nos convida a passar da fria aplicação da Lei mortal para uma nova condição onde é possível soprar a areia e, com o suave sopro da misericórdia, apagar os pecados do mundo.
            Fica para trás aquela mentalidade segundo a qual devíamos “pagar” pelos pecados. Vem Jesus Cristo – o Cordeiro cujo sangue “a-paga” o documento que o acusador erguia contra nós (cf. Cl 2,14) e já não há nenhuma condenação contra os que foram lavados em seu sangue (cf. Rm 8,1).
            Salva da matilha dos juízes transformados em réus, a jovem ouve de Jesus: “Vai, e não peques mais!”
Orai sem cessar: “A armadilha quebrou, recuperamos a liberdade!” (Sl 124,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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