A
menor de todas as sementes... (Mc
4,26-34)
Deus é miniaturista. Trabalha no
pequeno e rejeita o grandioso. A vida dos santos é a prova definitiva desse
trabalho microscópico. Quando morreu a pequena Teresa no Carmelo de Lisieux,
suas coirmãs se perguntavam que coisas poderiam dizer dela na comunicação aos
demais mosteiros. O futuro santo João Maria Vianney, curto de inteligência, foi
nomeado pároco de uma pequena aldeia, pois ali os eventuais estragos seriam
menores. Damião de Veuster passou sua vida praticamente esquecido entre os
leprosos de Molokai...
É assim que nós, enquanto
sonhamos com grandes feitos, perdemos seguidamente as oportunidades de edificar
o reino nas minúcias de cada dia. A parábola da semente de mostarda acentua o
contraste entre nossas pequenas ações e os efeitos surpreendentes da divina
Graça.
São João Crisóstomo [344-407 d. C.]
comenta: “Que há de maior que o Reino dos céus e de menor que um grãozinho de
mostarda? Como pôde Jesus comparar esse Reino infinito a um minúsculo grão de
mostarda, que ocupa tão ínfimo lugar? Entretanto, se examinamos atentamente o
Reino dos céus e o grão de mostarda, descobrimos quanto a comparação é justa e
natural!
Evidentemente, o Reino dos céus não
outra coisa a não ser o Cristo, pois ele disse de si mesmo: ‘Eis que o Reino de
Deus está no meio de vós’ (Lc 17,21). [...] Como acontece que Cristo seja ao
mesmo tempo o Reino e o grão, e que ele seja simultaneamente grande e pequeno
em relação ao Reino? Vejam: sua misericórdia por aqueles que ele criou é tão
grande, que ele se fez tudo para todos, para os ganhar a todos. Por sua própria
natureza, ele era Deus, como ainda o é e será para sempre. E tornou-se homem em
vista de nossa salvação. ‘Que profundidade na riqueza, na sabedoria e na
ciência de Deus! Suas decisões são insondáveis, seus caminhos são
impenetráveis!’ (Rm 11,33)
Ó grão, pelo qual o mundo foi feito,
as trevas dispersadas, a Igreja renovada! Como é grande a força desse grão
suspenso na cruz! Enquanto estava ali cravado, por uma simples palavra ele
arrancou do madeiro o ladrão para o mergulhar nas delicias do paraíso. De seu
lado transpassado pela lança, esse grão fez correr para os sedentos uma bebida
de imortalidade.
Depois que o desceram da árvore e o
plantaram no jardim, esse grão cobriu toda a terra com seus ramos. Semeado no
jardim, esse grão mergulhou suas raízes até os infernos. Dali ele fez saírem as
almas e, em três dias, conduziu-as ao céu.
O Reino dos céus é comparável a um
grão de mostarda que um homem semeou em seu campo. Semeia este grão no jardim
de tua alma e valerá também para ti a palavra do profeta: ‘Tu serás como um
jardim bem irrigado, como uma nascente onde as águas não faltam jamais’. (Is
58,11)
Orai sem cessar: “Senhor, não ando atrás de
grandes coisas...” (Sl 131,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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