Assim
vos tornareis filhos... (Mt
5,43-48)
O povo gosta da expressão que traduz
a semelhança entre o pai e seu filho: “ele é a cara do Pai”. Jesus também é a
cara do Pai. Ele o disse claramente em uma resposta a Filipe: “Quem me vê, vê o
Pai”. (Jo 14,9)
Assim, quando Jesus cura os
enfermos, devolve a visão aos cegos, multiplica os pães para a multidão
faminta, Jesus manifesta o amor do Pai pela humanidade. E o faria “até o fim”
(Jo 13,1) quando se entregou aos suplícios e a morte por nossa salvação.
No Evangelho de hoje, a exigente
lição de Jesus não é uma doutrinação abstrata, mas a expressão de sua prática
entre os homens: amar os inimigos, perdoar seus algozes, não reagir aos
insultos. Trata-se de um ensinamento que bate de frente contra a práxis de uma
sociedade paganizada que prefere “dar o troco”, “pagar na mesma moeda”, e
reafirma seus princípios éticos: “bateu levou”, “quem com ferro fere, com ferro
será ferido”, “bandido bom é bandido morto”...
H. Urs von Balthasar comenta esta
passagem: “Jesus Cristo é o Filho único de Deus, que nos faz conhecer aquilo
que ele ‘viu e ouviu’ junto do Pai (Jo 3,32). Ou seja: que Deus não ama
parcialmente, não é justo parcialmente; ao contrário, diante do ataque dos pecadores
contra ele, não responde com a retirada de seu amor. Ele o manifesta
humanamente, não opondo à força uma força contrária, mas oferecendo na Paixão a
outra face, dando dois mil passos com os pecadores, e até mesmo o caminho
inteiro. Ele deixa que os soldados lhe tomem não apenas o manto, mas também sua
camisa”.
“Mas sua não resistência tem mais
fôlego – prossegue o teólogo – que toda a violência do mundo. Seria um erro
erigir a atitude de Jesus como um programa político, pois está claro (mesmo
para ele) que a ordem pública não pode renunciar ao poder penal (ele mesmo, em
suas parábolas, pode falar desse poder, p. ex., Mt 12,19; Lc 14,31; Mt 22,7.13
etc.). Neste mundo de violência, Cristo apresenta uma forma divina de não
violência que ele declarou bem-aventurada para seus sucessores (cf. Mt 5,5), e
para cujo exercício ele aqui os convida.”
Daí, a impropriedade do cristão que
clama por vingança, processa seus adversários, espera pela oportunidade de
rebater e devolver ofensas e humilhações. Em nenhum passo dos Evangelhos Jesus
nos estimulou a eliminar nossos inimigos, mas sempre lembrou que Deus ama
também os injustos, reservando para eles a mesma luz do sol e a mesma taxa de
chuva que derrama sobre os justos (cf. Mt 5,45) como um Pai carinhoso.
Pode ser que os honestos não engulam
a lição de Jesus, e prefiram a intervenção de Júpiter Tonante, que arremessa
seus raios e frita aqueles que não seguem as leis do Olimpo. Mas o Pai de Jesus
é um Deus de amor: ama a vítima e o agressor...
Orai sem cessar: “O Senhor é bom, eterna é sua misericórdia...” (Sl 100,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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