Quando
deres esmola...
(Mt 6,1-6.16-18)
A esmola está em baixa. Há quem diga
que a esmola estimula a preguiça dos vagabundos. Outros afirmam que ela humilha
o beneficiado. Naturalmente, é preciso ouvir a opinião dos que passam fome,
eles podem discordar...
Curiosamente, os “Manuscritos” de Santa Teresinha de
Lisieux registram experiências de esmola em sua infância. Aliás, quando saíam a
passear pelas ruas, Mr. Martin, seu pai, dava-lhe previamente moedinhas para
distribuir aos mendigos. “Um dia, vimos um que se arrastava penosamente sobre
muletas. Aproximei-me e lhe dei um centavo (un
sou); mas não se achando bastante pobre para receber a esmola, olhou-me
sorrindo tristemente e recusou-se a tomar o que eu lhe oferecia. Não posso
dizer o que se passou em meu coração. [...] Embora tivesse apenas seis anos,
disse para mim mesma: ‘Rezarei pelo meu
pobre no dia da minha primeira comunhão’.” (Man. A, 52)
O fato de que a Pequena Teresa
cumpriria sua promessa, seis anos depois, nos leva a aproximar a esmola da
oração. Nosso compromisso com o próximo inclui as necessidades materiais e as
espirituais. As comunidades monásticas, que vivem na clausura, são um admirável
exemplo dessa caridade invisível.
Outra “esmola” mais aceitável em
clima de Séc. XXI é o trabalho solidário realizado através das ONGs, de
entidades de serviço como os “Médicos sem Fronteiras”, a Cruz Vermelha,
missionários cristãos, pastoral carcerária e grupos semelhantes. De fato,
dedicar ao próximo o próprio tempo, o próprio trabalho, incluindo riscos para a
saúde e para a vida, é uma esmola que não merece críticas.
Vale lembrar que a palavra esmola
vem do latim [eleemosyna], a partir
de raízes gregas, onde o substantivo “elaion”
[azeite] e o verbo “eleeô” [despertar
compaixão por meio de palavras] estão situados no campo semântico de piedade,
misericórdia. No ato penitencial, na missa em latim, a súplica “Kyrie, eleison” repete o gesto do
mendigo que estende a mão vazia e espera por uma resposta de compaixão.
Em suma: diante de Deus, nós somos
mendigos à espera de seu perdão e de sua cura. Iniciamos nossas celebrações
recordando nossa miséria, nossa extrema indigência, esperando que ela toque o
coração de Deus, remexa com suas entranhas. De fato, nos Evangelhos, quando
Jesus se compadece, logo antes de fazer uma cura ou reanimar um morto, o verbo
grego é “esplagnysthe”. Da mesma raiz
- splen - em português formou-se o
adjetivo esplênico, relativo ao
“baço”, indicando o realismo visceral das emoções de Jesus.
Digamos, então, que a esmola é
inseparável da capacidade de comover-se com a dor alheia, sentir um frio na
barriga e... abrir as mãos...
Orai sem cessar: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu...” (Sl 34,7)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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