Não
deis aos cães...
(Mt 7,6.12-14)
Na Palestina do tempo de Cristo, muito
diferente de nossa época apaixonada pelos pets,
os cães eram considerados como animais impuros. O nome de “cão” era atribuído
aos estrangeiros que não seguiam a religião de Israel. Até Jesus chegou a usar
desse termo quando parecia negar o pedido de uma mulher siro-fenícia, uma
estrangeira, que implorava pela libertação de sua filha (cf. Mt 15,26).
Também os porcos – cuja carne era
proibida como alimento ao israelita fiel – foram considerados impuros e não
eram criados no seu território. No Livro dos Macabeus (cf. 2Mac 6,18ss; 2Mac 7),
com a invasão macedônica, os judeus se recusaram a comer carne de porco,
conforme ordenava o rei Antíoco, ao preço da própria vida. Foi também para os porcos
que os espíritos impuros pediram que Jesus os enviasse (cf. Mc 5,12).
Neste Evangelho, Jesus contrasta as
coisas santas e os animais desprezados – os cães. Opõe igualmente as pérolas e
os porcos. A lição do Mestre de Nazaré é que as coisas sagradas, recebidas de
Deus como valiosos dons, não podem ser objeto de descuido ou de desprezo.
Lançar pérolas aos porcos significa depreciar os dons, não dar valor ao
investimento de Deus em nós.
Ora, nossos filhos são precioso dom
de Deus. É o próprio Deus quem nos faz transmissores da vida. E qual é o
cuidado que nós temos com os filhos? Como zelamos por sua fé, sua amizade com
Jesus, seu crescimento espiritual e, numa só palavra, como trabalhamos por sua
santificação?
A fé que recebemos de nossos
antepassados é valioso investimento de Deus, um depósito que uma geração passa
a outra em notável corrida de revezamento. Quando um casal – que recebeu o
batismo a pedido de seus pais – se recusa a batizar os filhos, comete
exatamente o pecado de lançar as pérolas aos porcos, pois esses filhos hão de
receber outro tipo de catequese, seja da TV, das mídias sociais ou dos
companheiros de esquina.
Podemos incluir entre nossas
“pérolas” aqueles componentes de nossa pessoa – inteligência, memória,
imaginação, vontade etc. – que recebemos como dons e deveriam dar frutos de
salvação para a Igreja e para a humanidade.
Mas não deixemos no esquecimento aquelas
“coisas santas” que o Espírito de Deus depositou no Corpo de Cristo, que é a
Igreja. Falo da Palavra de Deus, dos sacramentos em geral, especialmente a
Sagrada Eucaristia. Pode ser que um observador neutro, ao contemplar nossas
atitudes em relação a esses dons sagrados, perceba em nós algum desleixo,
alguma indiferença, algum desprezo pelas “coisas santas”, o que não haveria de
ficar sem repreensão ou punição.
Orai sem cessar: “O Senhor te abrirá o seu bom tesouro...” (Dt 28,12)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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