Uvas
de espinheiros?
(Mt 7,15-20)
A Sagrada Escritura tem belas
páginas sobre as promessas de Deus, como a imagem dos ossos secos no deserto,
que são reavivados pelo Sopro divino. Há belas passagens sobre os prodígios do
Senhor, como o mar aberto para a libertação do povo. Mas também há páginas
sombrias, onde a decepção de Deus corre como um rio...
É o caso de Isaías 5, no “Cântico da
Vinha”, onde o “amigo” do profeta – o próprio Senhor – se lamenta por um
investimento desperdiçado: “Possuía meu amigo uma vinha, numa encosta de terra
fértil. Ali plantou uvas selecionadas. Esperava que produzisse uvas boas, mas
só produziu uva brava. ‘Que mais eu deveria ter feito por meu vinhedo?’”
Nesta passagem estamos diante de uma
“degeneração”. O bom se torna mau. A planta se des-naturou. Perdeu sua carga
genética promissora de bom vinho. Trata-se de uma possibilidade para todo ser
humano desde Gênesis 3. A própria encarnação do Verbo teve como objetivo a
re-generação do gênero humano de-generado. Ninguém se espante, pois, se algo
que parecia bom por natureza – um ministério eclesial, a pregação da Palavra,
uma vida consagrada – acabe por se desvirtuar, mudando-se em fonte de poder, de
dominação, de rebeldia, de lucro, de acumulação de bens materiais.
No Evangelho de hoje, Jesus nos dá
um critério definitivo para identificar aqueles que parecem profetas: são os
frutos que eles produzem. Árvore boa produz frutos bons. Árvore má produz
frutos maus. A leitura das vidas dos santos – que já chegaram a ser objeto de
zombaria mesmo em ambiente eclesial – mostra de modo excelente como esses
homens e mulheres se deixaram invadir pelo Espírito Santo – essa seiva
excelente! – de modo a darem frutos de salvação.
Em torno dos santos as multidões se
aglomeram como abelhas que percebem o néctar das flores. Admiram seu amor pela
pobreza, seu desapego dos bens materiais, seu espírito de sacrifício, sua
disponibilidade em atender às pessoas, sua amabilidade a toda prova. São Paulo
fala dos bons frutos na Carta aos Gálatas:
“O fruto do Espírito, porém, é amor,
alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio
próprio. Contra estas coisas não há lei. Os que pertencem a Jesus Cristo
crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito,
procedamos também de acordo com o Espírito. Não busquemos vanglória,
provocando-nos ou invejando-nos uns aos outros.” (Gl 5,22-26)
Este Evangelho pode ser vir também
para uma avaliação de nossa prática em meio familiar, paroquial, no seio dos
Movimentos e das Comunidades Novas. Quais são os frutos que ali se percebem?
Orai sem cessar: “Graças a mim é que produzes fruto...” (Os 14,8)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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