Um
homem sem juízo... (Mt 7, 21-29)
Este Evangelho tem como eixo a
oposição entre um homem prudente, sensato, avisado (phronimós, no texto grego) e um homem imprudente, sem juízo (morós = louco, no texto grego). E qual é
a prova cabal da loucura do homem? É ouvir a Palavra de Deus e não a pôr em
prática.
Jesus reservou esta parábola sobre a
casa em rocha firme e a casa sobre areia para encerrar o Sermão da Montanha. É
como se dissesse: de nada valerá tudo o que acabo de ensinar se vocês não
puserem tudo isto em prática. Eu falei das aves do céu que o Pai celeste
alimenta, mas terá sido uma imagem inútil se vocês continuarem a viver como
pagãos preocupados. Falei dos lírios do campo que se vestem melhor que Salomão,
mas a lembrança não dará frutos se vocês continuarem preocupados com suas
vestes...
O pior é que não levar a sério todas
estas lições significa recusar Jesus Cristo como a Palavra do Pai que ilumina o
caminho da humanidade. Em outros termos, recusa e desprezo por sua presença
entre nós.
Hébert Roux entende que esta
passagem do Evangelho lança luz sobre a permanente discussão entre os crentes a
respeito da relação entre a fé e as obras. “Aqui Jesus revela a que ponto é
teórica e falsa a distinção tão frequente entre uma e as outras. Se a prática
da Palavra fosse uma obra que o homem realizasse por si mesmo e tivesse de lhe
acrescentar, para completá-la, a fé nele criada por Deus ao fazê-lo ouvir Sua
Palavra, então o Sermão da Montanha – e com ele todo o Evangelho – não faria
mais que recolocar para nós a justiça da Lei depois de nos ter libertado dela.”
Foi neste sentido o alerta do
apóstolo Paulo: “terminar pela carne depois de ter começado pelo espírito” (Gl
3,3) ou “pôr-se de novo sob o jugo da escravidão”. H. Roux prossegue: “Ora,
segundo este texto, não há de um lado a fé, criação de Deus, e do outro as
obras, os frutos imutáveis ao homem; mas há homens que, ouvindo a Palavra,
põem-na em prática e dão um fruto que será conhecido e manifestado pelo
julgamento de Deus, além de todas as aparências”.
“A fé que não produz as obras não é
a fé”, conclui o mesmo exegeta. E inversamente, as obras não podem existir sem
a fé. A “prudência” de quem edifica sobre a rocha é impossível sem a presença
da fé. Ao mesmo tempo, é a ausência da fé que leva o “louco” a edificar sobre a
areia.
Trabalhar como um escravo, acumular
riquezas que a traça rói, dividir o mundo em amigos e inimigos, armar-se à
espera do agressor – eis alguns traços da loucura alimentada pela falta de
fé...
Orai sem cessar: “Meu Deus, minha rocha em quem me refugio...” (Sl 18,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança
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