Sê
limpo!
(Mt 8,1-4)
Neste Evangelho, com um simples
toque de mão, Jesus cura um homem de sua lepra. Na Palestina do tempo de Jesus
– bem como em muitos lugares, ainda no Séc. XXI – a hanseníase era uma doença
que excluía o enfermo da convivência comunitária. Devia ele vestir um manto
apropriado e manter-se fora da cidade, à margem dos caminhos. Se alguém se
aproximava, o leproso fazia algum tipo de ruído com um pedaço de metal, ao
mesmo tempo que gritava: “Impuro! Impuro!”
A situação dos infelizes era ainda
agravada pelo fato de se associar a enfermidade a algum pecado cometido. Em
outra passagem do Evangelho, os discípulos de Jesus perguntam a respeito de um
cego de nascença: “Senhor, quem foi que pecou para ele ter nascido cego? Ele ou
seus pais?” Via-se toda doença como castigo contra o pecador. E de imediato o
Mestre nega essa possível causa, antes de devolver-lhe a visão e, com isso,
contribuir para a glória de Deus (cf. Jo 9,1-3).
É curioso notar a relação entre cura
e limpeza, salvação e purificação. A mesma palavra latina – salus – se traduz como “saúde” e
“salvação”. Sob este ângulo, a doença seria uma “sujeira”, algo que emporcalha
o homem, velando a imagem divina nele gravada. Claro, a imagem deformada do
corpo físico de um homem serve muito bem de figura da outra degeneração – muito
mais grave e profunda! – que o pecado produz na alma e no coração da pessoa. A
ação do Deus que santifica sua criatura bem pode ser vista como uma assepsia,
uma “limpeza” das manchas do pecado.
Mas a situação é bem outra depois de
Jesus Cristo. Em clima de Nova Aliança, ao contrário de excluir e afastar os
enfermos do convívio e da comunhão, a enfermidade nos interpela a aproximar-nos
da pessoa ferida e, à imagem do Bom Samaritano (o próprio Jesus Cristo), usar
de todos meios para demonstrar nossa misericórdia e recuperar o irmão ferido.
Foi assim que muitos agentes de
saúde cristãos (católicos ou não) deram sua vida ao tratar das vítimas do vírus
Ebola, na África. As atuais Comunidades Novas são um belo exemplo de
agrupamentos cristãos que se dedicam às “diaconias”, pondo-se a serviço dos
mais necessitados.
Deus não quer a doença. Ao
contrário, quer a cura. Mas é preciso que o enfermo se aproxime de Jesus, como
fez o leproso deste Evangelho. Superando o preconceito que devia mantê-lo como
marginal, ele aposta no poder de Jesus: “Se queres, podes curar-me!” Corpos
feridos, corações partidos, mentes confusas, almas nas trevas – nada está fora
do alcance desse Amor sem fronteiras.
Quando iremos nos aproximar?
Orai sem cessar: “Senhor, purifica-me do meu
pecado!” (Sl 51,4)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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