PALAVRA DE VIDA
Bem-aventurados os vossos olhos! (Mt 13, 10-17)
No Antigo Testamento, Deus se oculta aos olhos humanos. Puro espírito, ele apenas se faz ouvir: “Shemá, Israel!” Em toda a Primeira Aliança, o ouvido supera a visão. O hebreu fiel é um bom ouvinte. E o Senhor Javé permanece oculto na nuvem, mesmo quando acompanha seu povo pelo deserto.
Claro que o povo anseia pela visão. O salmista reclama: “Por que me ocultais a vossa Face?” (Sl 88, 15.) Em Isaías, nas passagens messiânicas, mesmo que simples promessa, a audição começa a dar lugar a visão. “Neste monte, o Senhor tirará o véu que vela todos os povos...” (Is 25, 6.) “Será vista a glória do Senhor.” (Is 35, 1.) E um convite a olhar o futuro: “Levanta-te, eis a tua luz... Levanta os olhos e olha à tua volta... Esta visão tornar-te-á radiante...” (Is 60, 1.4-5.)
Estamos, pois, diante de uma sensível mudança. No Éden, o Senhor Deus era uma presença impalpável na brisa da tarde. No deserto, Yahweh se ocultava na nuvem do Êxodo. No Sinai, os trovões assustavam e os relâmpagos ofuscavam os olhos. Mas na plenitude dos tempos, quando o Filho de Deus se encarna, nascendo de Mulher, já pode agora ser tocado, pode ser visto.
Como escreveu o Apóstolo João, “nossos olhos viram, nossos ouvidos ouviram, nossas mãos tem apalpado” o Verbo da vida. (Cf. 1Jo 1, 1.) E Deus, agora, tem uma Face humana, e é a cara da Mãe! Seus pés humanos palmilharam nossas estradas. Suas mãos acariciaram nossas crianças. Sua saliva curou os olhos do cego. Seu sangue correu no Calvário. Tudo aquilo que foi vedado aos profetas e aos patriarcas da Primeira Aliança, é agora franqueado a todos, sem exceção.
Daí a observação de Jesus: “Bem-aventurados os vossos olhos!” Ditosas as vossas retinas! Estão vendo e contemplando algo novo, inesperado: o próprio Deus na carne dos mortais! Cumpriram-se as promessas antigas. Deus, agora, é Emanuel: Deus conosco, Deus em nós...
Também nós somos felizes e bem-aventurados. Em cada Eucaristia, sobre o santo altar, nossos olhos podem ver o Deus vivo em sua presença real, sacramental. E ainda mais: além de vê-lo, nós o temos como alimento. Muito mais do que os antigos ousaram sonhar, imaginar e pedir.
E ao comungar, podemos todos rezar com Elisabeth da Trindade: “Deus em mim... Eu em Deus...”
Orai sem cessar: “Senhor, abre meus olhos!”
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário