Então, eles jejuarão... (Mt 9,14-15)

Podemos aprender algo importante com João Calvino [+1564]:
“Digamos alguma coisa sobre o jejum, pois muita gente, ignorando sua utilidade, pensam que ele não é necessário. E outros, o que é ainda mais grave, rejeitam o jejum como algo inteiramente supérfluo. Ademais, quando não se conhece bem o seu uso, pode-se fazer dele facilmente uma prática supersticiosa.
O jejum santo e reto visa a três diferentes finalidades: primeiro, para domar a carne, a fim de ela não se anime em excesso; a seguir, para mais bem dispor o coração à prece, à oração e outras santas meditações; enfim, para dar testemunho de nossa humildade diante de Deus, quando queremos confessar perante ele o nosso pecado.
Cada vez que temos de rogar a Deus em comum por alguma coisa importante, é bom exortar ao jejum. Foi assim que os fiéis de Antioquia, quando impuseram as mãos a Paulo e Barnabé, juntaram o jejum à oração (At 13,3). Neste tipo de jejum, eles não tinham outro objetivo a não ser mais bem se dispor e se tornarem mais alegres na oração. De fato, quando o ventre está cheio, o espírito não é muito vivaz para elevar-se até Deus; ele experimenta menos uma ardente disposição para a prece e é menos estimulado a perseverar.
Não entendemos como jejum apenas a simples temperança e sobriedade no beber e no comer, mas algo a mais. Esta restrição situa-se em três pontos: na duração, na qualidade dos alimentos e na quantidade.
Não esqueçamos o que diz Joel: isto é, que o jejum não tem valor por si mesmo, diante de Deus, se não é feito na aflição do coração e se o homem não tem um verdadeiro desgosto de si e de seus pecados, em verdadeira humildade.” (In Institution Chrétienne, IV, 12.14ss, Labor et Fides, 1958.)
Sitiado pelo mundo neopagão, o cristão acaba envolvido pelos seus costumes, atitudes e contravalores, entre os quais o gosto pelo luxo, pela abundância, a mesa farta e todo tipo de comodismos e facilidades. Natural, pois, que o jejum se torne uma espécie de dinossauro, coisa antediluviana, impensável na vida moderna. E, claro, o diabo gosta...
Orai sem cessar: “Humilhai-vos na presença do Senhor!” (Tg 4,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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