Sou do alto... (Jo 8,21-30)

Claro, a in-compreensão dos contemporâneos (aqui incluída a “família” de Jesus, cf. Mc 3,1) brota de sua incapacidade de ir além da aparência humana, terrestre, do Rabi. Ele só poderia ser corretamente entendido a partir do momento em que o re-conhecessem como alguém que é “do alto”. E Jesus se apresenta como quem não é aqui “de baixo” (ek ton káto, da região inferior) como seus ouvintes, mas lá “de cima” (ek ton áno, da região superna, isto é, do céu).
Barrentos que somos, filhos de Adão, tentamos reduzir tudo às dimensões do húmus (humanas, claro!). E diante de nós, no entanto, está Aquele que “desceu” do Altíssimo e assumiu nossa humanidade, mas permanece divino, superando tudo aquilo que a humana ciência poderia dizer sobre o Cosmo, a matéria e... o psiquismo humano.
Em vão se esforçam os céticos na desesperada tentativa de reduzir o Jesus “que vem do alto” a alguma de nossas categorias aqui de baixo: um sábio, um cérebro superior, um “iluminado”, um homem bonzinho tão maltratado, um E.T., um grande líder, um guerrilheiro – sabe-se lá que mais!
Daí a frase aparentemente hermética que Jesus falou a Nicodemos (Jo 3,1-21), na escuridão da noite: “Necessário vos é nascer do alto” (gennethẽnai ánothen). Enquanto não nascemos do Espírito e permanecemos orientados por uma visão simplesmente terrestre e material, Jesus permanecerá um enigma para nós...
E quando esse re-nascimento nos for dado (você o quer?), nosso coração será logo invadido por um sentimento da mais suave gratidão, pois então saberemos que Aquele que era “do alto” desceu e veio a nós: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Deus visitou o seu povo...
No momento da Ascensão, ao subir de volta ao Pai, Jesus Cristo abre-nos o caminho para a mesma subida, vivendo (desde já) como quem busca o alto. Então entenderemos o conselho do apóstolo Paulo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto...” (Cl 3,1.)
Orai sem cessar: “Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus.” (Sl 122,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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