quinta-feira, 29 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

 Eu sou! (Jo 8,51-59)
            Um dos sentidos do verbo “ser” está ligado à essência da pessoa. Todas as criaturas existem porque foram chamadas à vida pelo Criador. Só Deus, porém, pode dizer “eu sou” de forma absoluta e radical, pois só Deus “existia antes de todos os séculos”. Em seu magnífico prólogo, o evangelista João fala de Jesus Cristo, Verbo de Deus: “No princípio, era o Verbo [...] e o Verbo era Deus! [...] Tudo começou a existir por meio dele, e sem Ele nada se fez do que foi feito.” (Jo 1,1.3)
            Nós, humanos, “somos” apenas a partir do momento de nossa fecundação. Esta existência terrestre dura um tempo e logo se acaba, com nossa alma espiritual projetada na eternidade. Nosso “ser” passa, dura muito pouco. A Sagrada Escritura gosta de comparar a nossa existência às flores do campo, que fenecem e murcham ao fim de um único dia. A consciência da própria efemeridade atravessa dolorosamente a produção dos artistas de todas as épocas. Por oposição, só Deus é eterno. Só Deus “é” de modo absoluto. Só Deus existe por si mesmo, sem ter princípio nem fim.
            Não admira que, ao se apresentar a Moisés, no episódio da sarça ardente (Ex 3), o Senhor Deus assim lhe dissesse o seu Nome: “EU SOU”. O termo hebraico que traduzimos por Javé é, na verdade, uma sequência de 4 grafemas hebraicos impronunciáveis (YHWH), derivada de antiga forma do verbo hawah (ser, ser atuante – diz a TEB). Para o povo da Primeira Aliança, este era o nome de Deus.
            Ora, no Evangelho de hoje, Jesus Cristo não hesita em se definir com a mesma expressão: “Antes de Abraão existir, EU SOU!” É por isso que, entendendo sua frase como blasfêmia, seus ouvintes apanharam pedras para o lapidar. A leitura atenta dos Evangelhos revela que Jesus Cristo insinuou a mesma definição em várias passagens, o que manifesta a consciência de sua unidade com o Pai, a consciência clara de ser algo mais que um simples mortal.
            A nota da Bíblia de Jerusalém para Jo 8,24, diz: “Atribuindo este nome a si mesmo – EU SOU -, Jesus se apresenta como o único e verdadeiro Salvador, para o qual tendiam a fé e a esperança de Israel (cf. Jo 8,28.58; 13,19) e também Jo 6,35; 18,5.8)”. Nesta última passagem, diante dos guardas que procuravam prendê-lo no Getsêmani, Jesus se entrega dizendo: SOU EU! E, diante do Nome de Deus, os soldados caem por terra...
            No Evangelho de hoje (v.58), João contrasta as formas verbais “eu sou” [ego eimi] e “viesse a ser” [genéstai], esta última aplicada a Abraão, um jogo de palavras que realça a eternidade do Verbo, o Cristo Senhor.
            Recusar Jesus como Salvador significa dizer: “NÃO ÉS!” E assim começa o inferno...
Orai sem cessar: “O Senhor é nosso Rei, ele nos salvará!” (Is 33, 22)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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