terça-feira, 3 de abril de 2012

PALAVRA DE VIDA

 O pedaço de pão molhado... (Jo 13, 21-33.36-38)
            Uma cena chocante. E tão real, que não poderia ser fruto da imaginação! Na Última Ceia com seus apóstolos, logo antes de ser entregue aos inimigos, Jesus senta-se à mesa, lado a lado com o traidor. Ao contrário do que pintaram muitos artistas ao longo da História, inclusive na célebre tela de Leonardo da Vinci, não é Pedro quem está junto ao Senhor. É Judas...
            Traduzindo uma “Vida de Cristo” escrita por Mons. Luigi Biraghi – fundador das Irmãs Marcelinas e Diretor da Biblioteca Ambrosiana de Milão – percebi, pela primeira vez, esta situação impensada: para “molhar o pão no mesmo molho” que Jesus, Judas devia estar a seu lado. Mons. Biraghi chega a desenhar o croquis da mesa: de um lado de Jesus, João, o discípulo amado; do outro, o traidor...
            Esse pedaço de pão molhado [o molho era o harosset, uma espécie de compota de amêndoas típica da Páscoa judaica] talvez fosse uma extrema oportunidade oferecida pelo Mestre ao seguidor sabidamente traidor. Um sinal de benevolência e de abertura ao arrependimento. Infelizmente, como comenta Santo Agostinho, “bom é aquilo que recebeu, mas recebeu-o para sua perdição, porque aquele que era mau recebeu com má disposição o que era bom”.
            Mas não é a maldade humana que deve estar no centro de nossa reflexão. Ao contrário, o que nos impacta é que Jesus se conserva bem perto de seu inimigo. Mesmo conhecendo as disposições interiores de Judas Iscariotes, Jesus não o repele, mas se aproxima dele, cotovelo com cotovelo, e reparte o pão. Cumpria-se o que o salmo havia profetizado: “Até o amigo com o qual eu contava, e que partilhava do meu pão, levantou o calcanhar contra mim”. (Sl 41 [40], 10). É uma imagem forte, pois o calcanhar é usado para esmagar as serpentes e os escorpiões...
            Do outro lado, está João, o discípulo que permanecerá fiel aos pés da cruz. Mais longe, Pedro sinaliza para João, que está reclinado sobre o peito de Jesus. No clima um tanto barulhento da celebração entre judeus, quando o vinho anima os corações e solta as línguas, Pedro consegue fazer com que João entenda o sinal: devia perguntar ao Mestre quem seria o traidor há pouco anunciado: “Um de vós me há de trair...” E o traidor era o mais próximo...
            Também nós temos sido privilegiados pelo Senhor com imerecidos sinais de intimidade. Peçamos a graça de corresponder a essa confiança. A graça da fidelidade.
Orai sem cessar: “Yahweh preserva os leais.” (Sl 31 [30], 24)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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