
Todo amor verdadeiro traz uma exigência de estabilidade.
Como a ave marinha busca pelo rochedo onde descansará, assim o amor sai da
pessoa amante à procura da pessoa amada. Amor: movimento em busca de descanso.
Amor: dinamismo em busca de equilíbrio...
O verbo “permanecer” [repetido 9 vezes em 4 versículos;
cf. Jo 15,4-7] é formado de um prefixo “per” [= por completo,
totalmente] e do verbo latino “manere” (do qual deriva o substantivo
“mansão”, o lugar de repouso, a casa da família). Permanecer é ficar em
definitivo, sem mudanças e transferências, como quem encontrou seu espaço
“permanente”, seu porto de chegada.
Jesus quer permanecer em nós. Por iniciativa dele, jamais
nos separaríamos. A única condição para essa permanência é que nós mesmos,
usando de nossa liberdade espiritualizada pelo Batismo, jamais interrompamos
essa amizade tão íntima. Apenas um ato de volição de nossa parte, recusando o
amor e preferindo o mal, pode amputar-nos de seu tronco vital, como ramos
decepados da Videira verdadeira.
Vivemos um tempo de coisas provisórias. Objetos
descartáveis. No lar de nossos avós, a cristaleira e a velha eletrola eram
incorporados em definitivo ao ambiente caseiro. Também as relações eram
estáveis, segundo o juramento feito “até que a morte nos separe”. Hoje,
assalta-nos uma inquietação interior que leva a quebrar juramentos, abandonar
projetos e rejeitar missões assumidas de forma solene. Já não sabemos
“permanecer”... Isto explica – ao menos em parte – a “mobilidade religiosa” que
faz os fiéis saltarem de Igreja em Igreja, de seita em seita, de filosofia em filosofia,
como miquinhos no arvoredo. Em pouco tempo se cansam do novo galho e partem
para outra aventura. Assim, não deixam maturar relações profundas, não criam
raízes, não esperam pelo tempo da colheita.
Neste Evangelho, Jesus nos convida a permanecer no seu
amor. “Manete in dilectione mea” – onde não se lê “amor” (mero
sentimento), mas “dileção” (amor dedicado, diligente e, se preciso for, amor
sofrido). Trata-se do amor que foi provado pela cruz, pelas crises do
casamento, pelas tempestades da vida, pelas tentações do Maligno, pelo salto no
escuro.
Somos todos chamados a um amor de eternidade. Um amor
mais forte do que a morte (cf. Ct 8,6).
Orai sem
cessar: “O Senhor me esconde no seu abrigo.” (Sl
27,5)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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