Em seu “discurso eucarístico” (Jo
6), Jesus repete várias vezes a expressão “pão do céu”. Claro, nós, os
católicos, logo reconhecemos aqui o Sacramento da Eucaristia, onde Jesus se dá
como alimento. No Evangelho, Jesus força um contraste entre outro “pão do céu”
– o maná do Êxodo – e sua própria pessoa prometida em alimento do modo mais
concreto e cru: “comer minha carne”... “Beber o meu sangue”...
No entanto, atentos ao “pão”,
passa-nos despercebido o verbo “descer”. Sem a Encarnação, isto é, a “descida”
de Jesus, nós não teríamos esse alimento em nossos altares. Há algum tempo,
vários autores espirituais vêm chamando nossa atenção para o despojamento (kênosis)
do Verbo, seu caminho descendente na direção da humanidade decaída.
De fato, O Verbo era Deus e,
descendo, se faz homem. Como homem, Ele desce mais e se faz servo, lavando os
pés dos discípulos na Última Ceia. Prossegue sua “descida” e se faz escravo,
morrendo na cruz – pena que não podia ser aplicada contra um cidadão (lembrar
que Paulo foi degolado, e não crucificado, pois era cidadão romano!). Morto,
Jesus desce ao túmulo. Ressuscitado, desce mais fundo, até o Xeol, a mansão dos
mortos, para ali anunciar a Boa Nova aos que tinham vivido em gerações
anteriores (cf. 1Pd 3,19; 4,6).
O leitor suspira fundo e diz: “Puxa!
Acabou a descida!” Pois se engana, caro leitor: Jesus Cristo não se cansa de
descer. Desce agora sobre o altar, em um nível ainda inferior, rebaixando-se
ainda mais, ao se fazer pão, coisa, menos que pessoa, para nos alimentar e
sustentar...
Por muito tempo, andamos iludidos ao
considerar a vida cristã como uma heroica escalada até os céus, onde nos
encontraríamos com o Senhor. Antigo ícone bizantino mostra a “escada das
virtudes”, com 33 degraus que deviam ser escalados até a salvação. No ícone,
demônios espetam com garfos os fiéis que tentam a escalada, derrubando-os das
alturas. Ora, Deus desceu! Assumiu o ponto mais baixo da História humana,
fazendo-se criancinha pequena, frágil, pobre, dependente.
De agora em diante, quem quiser
encontrar Deus, terá de descer bem lá em baixo... Ou não o encontrará...
Orai sem
cessar: “Senhor,
dai-nos sempre deste Pão!” (Jo 6,34)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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