domingo, 12 de agosto de 2012

PALAVRA DE VIDA

O Pão que desceu do céu... (Jo 6,41-51)
            Em seu “discurso eucarístico” (Jo 6), Jesus repete várias vezes a expressão “pão do céu”. Claro, nós, os católicos, logo reconhecemos aqui o Sacramento da Eucaristia, onde Jesus se dá como alimento. No Evangelho, Jesus força um contraste entre outro “pão do céu” – o maná do Êxodo – e sua própria pessoa prometida em alimento do modo mais concreto e cru: “comer minha carne”... “Beber o meu sangue”...
            No entanto, atentos ao “pão”, passa-nos despercebido o verbo “descer”. Sem a Encarnação, isto é, a “descida” de Jesus, nós não teríamos esse alimento em nossos altares. Há algum tempo, vários autores espirituais vêm chamando nossa atenção para o despojamento (kênosis) do Verbo, seu caminho descendente na direção da humanidade decaída.
            De fato, O Verbo era Deus e, descendo, se faz homem. Como homem, Ele desce mais e se faz servo, lavando os pés dos discípulos na Última Ceia. Prossegue sua “descida” e se faz escravo, morrendo na cruz – pena que não podia ser aplicada contra um cidadão (lembrar que Paulo foi degolado, e não crucificado, pois era cidadão romano!). Morto, Jesus desce ao túmulo. Ressuscitado, desce mais fundo, até o Xeol, a mansão dos mortos, para ali anunciar a Boa Nova aos que tinham vivido em gerações anteriores (cf. 1Pd 3,19; 4,6).
            O leitor suspira fundo e diz: “Puxa! Acabou a descida!” Pois se engana, caro leitor: Jesus Cristo não se cansa de descer. Desce agora sobre o altar, em um nível ainda inferior, rebaixando-se ainda mais, ao se fazer pão, coisa, menos que pessoa, para nos alimentar e sustentar...
            Por muito tempo, andamos iludidos ao considerar a vida cristã como uma heroica escalada até os céus, onde nos encontraríamos com o Senhor. Antigo ícone bizantino mostra a “escada das virtudes”, com 33 degraus que deviam ser escalados até a salvação. No ícone, demônios espetam com garfos os fiéis que tentam a escalada, derrubando-os das alturas. Ora, Deus desceu! Assumiu o ponto mais baixo da História humana, fazendo-se criancinha pequena, frágil, pobre, dependente.
            De agora em diante, quem quiser encontrar Deus, terá de descer bem lá em baixo... Ou não o encontrará...
Orai sem cessar: “Senhor, dai-nos sempre deste Pão!” (Jo 6,34)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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