Ela muito amou... (Lc 7,36-50)

Pobre Simão! Triste fariseu! Tão honesto, tão ignorante do pensamento de Deus! Quando Jesus chegara, como convidado, um servo da casa deveria ter lavado seus pés com água. A hospitalidade oriental saudava o visitante com o ósculo da paz, que Jesus não recebera. Costumava-se igualmente perfumar a visita com aromas especiais. Nada disso tinha ocorrido... A recepção dada a Jesus não fora nada calorosa!
Assim, diante da crítica muda de Simão, o fariseu, Jesus pode responder com o triplo contraste: ali onde faltara a água, a mulher trazia lágrimas; onde faltara o beijo na face, ela vinha com os beijos nos pés; onde faltara o aroma comum, ela derramava o precioso nardo. Tudo demais! Tudo fora da medida! Tudo em excesso, como só faz quem ama...
No clímax da sequência, Jesus declara alto e bom som que os pecados da mulher estavam perdoados. E nós, modernos fariseus, julgamos que o perdão foi dado como retribuição por seu tríplice gesto. Erramos! É o contrário! De algum modo, antes deste encontro (isto fica bem claro no filme de Franco Zefirelli) ela havia experimentado o amor de Jesus, manifestado por um olhar na esquina. Agora, sim, sentindo-se amada e perdoada, ela é capaz dos gestos que fez. O perdão recebido antecede os gestos de amor...
O fariseu honesto tinha como catecismo a certeza de que só os “puros” merecem a atenção de Deus. Jesus quebra as tábuas da lei farisaica e demonstra que é o amor que salva, não a honestidade. O mesmo Jesus que tantas vezes afirmara: “Eu não vim para os justos, mas para os pecadores... São os doentes que necessitam de médico...” (Mt 9,12-13.)
Deus nos livre do moralismo afetado. Deus nos permita a experiência de ser perdoado e, livres da culpa, nos tornemos capazes de muito amar...
Orai sem cessar: “Eu te amo, Senhor, minha força!” (Sl 18,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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