Em geral, nós nos consideramos muito espertos, muito sabidos. As aves migram para o norte? Vem chegando o inverno. Os caramujos saem para a calçada? A chuva vem aí. O horizonte fica vermelho no pôr-do-sol? Vai fazer frio. Sabemos ler os sinais da natureza, interpretar a linguagem das coisas. Por que não sabemos ler os “sinais dos tempos”?
Os judeus do tempo de Jesus se orgulhavam do aspecto majestoso de seu Templo, que estava sendo restaurado por Herodes (ainda que as obras só terminassem entre 62 e 64 d.C.). Pedras monumentais, muralhas ciclópicas e uma cúpula recoberta de ouro que refletia ao longe os raios do sol! Aquele era “o mundo” dos judeus. E Jesus vem anunciar um “fim de mundo” (cf. Mt 21,6). E no ano 70 d.C., as tropas de Tito, filho de Vespasiano, invadiriam Jerusalém e ateariam fogo ao Templo, do qual nos resta, hoje, apenas uma parede: o Muro das Lamentações. Sem o Templo, sem os sacrifícios, sem os sacerdotes, o povo judeu experimentava o “fim” de seu mundo.
Todos os brados de alerta erguidos por Jesus Cristo não apenas foram inúteis, mas considerados como blasfêmia contra o lugar sagrado de Yahweh. A sociedade judaica, ainda que sob a dominação dos romanos, que haviam anexado a província da Palestina ao seu Império, não soube discernir os sinais de decadência que prenunciavam uma ruína bem próxima.
E nós? Estamos lendo os sinais de nosso tempo? O crescimento da miséria, as epidemias, a fome endêmica, a acumulação da riqueza, a corrida armamentista, a contracepção indiscriminada, a legalização do aborto, o reconhecimento legal de um partido pedófilo na Holanda, a utilização de embriões humanos para obscuras pesquisas médicas, o rapto de crianças para extração de órgãos para transplante... Não faz pensar? Não convida à conversão? Não revela a decadência moral e espiritual de todo um modelo de civilização?
Enquanto os sinais se acumulam, os pagãos festejam: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos!” (1Cor 15,32) Os suicídios se multiplicam entre os mais ricos. Diplomas universitários já não são garantia de emprego. Artistas famosos são roídos pelas drogas e pelo álcool. Quando deixaremos os ídolos do sistema e nos apegaremos a Deus?
Orai sem cessar: “Dai-me um sinal de vosso favor!” (Sl 86,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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