No 3º Domingo do Advento, a liturgia retira de um profeta menor o convite ao júbilo sem freios. Na verdade, Deus manda o povo gritar de alegria. A antífona na entrada da missa traz o imperativo “Gaudete”! Isto é, Alegrai-vos! Um tal estremecimento de gáudio que chega a trocar o roxo dos paramentos pelo suave tom róseo das orquídeas do verão.
O convite à alegria é dirigido à “Filha de Sião”. De modo amplo, a jovem hebreia encarna todo o Israel, todo o povo escolhido, que adorava ao Senhor Yahweh nas altitudes do Monte Sião, onde fora erguido o Templo. Desde cedo, a Igreja nascente se identificou com esse povo e teve a consciência de ser o Novo Israel, herdeiro das promessas feitas aos antigos patriarcas da Primeira Aliança.
Mas, ao mesmo tempo, é impossível não pensar em Maria, a jovem noiva de Nazaré, a quem o anjo Gabriel foi enviado por Deus em um encontro iniciado pelo mesmo convite: “Chaire, kecharitoméne” = Alegra-te, plena de graça! No Advento, a Igreja mira e remira de modo especial a figura da Mãe de Deus, pois nela tem o seu espelho, seu modelo de escuta e acolhida da Palavra de Deus.
Sim, não há Advento sem Maria! Tal como a jovem Maria de Nazaré acolheu o Verbo-Palavra a ponto de o gerar na carne dos mortais, assim também a Igreja se vê chamada, hoje, a encarnar Jesus Cristo no mundo. Se ela cumprir seu papel, teremos um Menino no Natal... Se a Igreja gerar Jesus, o mundo já não seguirá sem esperança, mas “as ovelhas mancas e perdidas verão a salvação”.
Como reflete com acuidade o teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, “o olhar antecipado e alegre sobre a vinda imediata do Senhor exige também que essa alegria seja verificada pelo amor fraternal da comunidade, cuja “bondade” deve ser reconhecida também pelos não-cristãos. A alegria que se antecipa ao Senhor deve ser apostólica. Este abandono plenamente confiante das preocupações terrenas a Deus (como o exige o Sermão da Montanha) só será cristão se for ligado à oração que implora o pão de cada dia e agradece pelo dom recebido.”
Orai sem cessar: “Com alegria tirareis água das fontes da salvação!” (Is 12,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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