Cordeiros no meio de lobos (Lc 10,1-9)
O lobo é um
animal carnívoro. Um predador. Movido pelo instinto, ataca e destrói. O
cordeiro é um herbívoro. Seu traço dominante é a mansidão. De espírito
gregário, vive em grupo, pacificamente.
Jesus Cristo
não podia ter escolhido melhor imagem para significar a missão daqueles que
foram encarregados de anunciar a paz em seu nome. O Messias que Isaías
descreveu profeticamente como o cordeiro que se deixa conduzir ao matadouro,
ovelha muda que se deixa tosquiar (Is 53), não podia tornar-se um chefe de
quadrilha ou um general à frente de uma milícia de conquistadores. Por isso
mesmo, o anúncio da Boa Nova não é campanha de conquista, mas proposta de paz.
A sociedade
humana não parece ter compreendido bem as intenções de Jesus. Nossas bandeiras
e brasões mostram águias e leões, aves de rapina e outros símbolos de força,
poder e destruição. A polícia brasileira, que deveria ser por vocação uma
organização que se aproximasse do povo para prestar serviços, adota emblemas
com caveiras, serpentes e punhais, inspirando medo e repulsa. Nós, Igreja, não
podemos ser assim...
Aliás, a
própria história da Igreja e sua incontável legião de mártires confirma que
Jesus tinha toda razão ao falar de cordeiros entre lobos. Presas entre
predadores. Desde a lapidação de Estêvão e a execução do apóstolo Tiago (cf. At
7,58; 12,2), um rio de sangue correu dos corpos dos cristãos perseguidos e
torturados. E era com notável alegria que eles se abandonavam aos carrascos,
pedindo a Deus que não lhes imputasse tal crime. O exemplo de Cristo, que
abraçou a cruz e aceitou a morte, apontava o caminho a seguir...
Como
escreveu o Papa Bento XVI, “pela fé, os mártires deram a sua vida para
testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de
chegar até o dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores”. (Porta Fidei, 13)
Depois
disso, com que justificativa poderíamos assumir uma posição vitimista,
infantil, e chorar lágrimas de esguicho porque a Igreja e seus membros sofrem
calúnias e perseguição? O próprio Senhor nos avisou que seria assim. Ele nunca
nos prometeu rosas, mas foi o primeiro a aceitar os espinhos...
Um de nossos
símbolos litúrgicos é o Cordeiro imolado, que ergue o estandarte da vitória.
Mas ele traz as marcas de sua Paixão, pois não há ressurreição sem morte. Pena
que nossa visão da morte de Jesus no Calvário deixe na sombra sua força, sua
coragem, sua ousadia! É bem mais fácil sacar da espada e cortar orelhas...
Difícil é seguir sempre adiante, como Cristo, para cumprir a nossa missão...
Orai sem cessar: “Minha
cidadela é Deus, o Deus que me é fiel!” (Sl 59,18)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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