Por fora
parecem belos... (Mt 23,27-32)
O
povo antigo tinha um dito para nos alertar: “por fora, bela viola; por dentro,
pão bolorento”. Neste Evangelho de tonalidade assustadora, Jesus emprega uma
linguagem ainda mais forte: “sepulcros caiados”. Para os judeus, quem
esbarrasse em um túmulo, ficaria ritualmente impuro e deveria passar por
complicado processo de purificação. Daí o costume de caiar os sepulcros, de
modo que ficassem bem visíveis e ninguém os tocasse por descuido. No entanto,
mesmo limpinhos por fora, nada mudava sua podridão interior. Não adianta salvar
as aparências...
Jesus
se vale dessa imagem crua para denunciar a falsidade dos homens da religião
judaica que “vendiam uma imagem” exterior de piedosos quando, por dentro,
alimentavam sentimentos contrários à Lei de Deus, como a autossuficiência, a
vaidade e a avareza. É para eles – os religiosos de fachada - que Jesus reserva
o adjetivo “hipócritas” (cf. Mt 23,13; Mc 2,16).
Em
sua juventude, quando morava em Nazaré, é bem provável que Jesus tenha visitado
uma das cidades de cultura helenizada, ali mesmo na Galileia, como Tiberíades
ou Cesareia de Filipe, onde peças de teatro eram representadas nas arenas.
Nestas, os atores usavam máscaras sobre o rosto (trágica e cômica) e simulavam
tristeza ou alegria, lágrimas ou gargalhadas, conforme o seu papel. Claro, eram
sentimentos fingidos, não correspondiam ao íntimo dos artistas.
Jesus se
vale desta situação (a de estar “debaixo da máscara”) para definir a atitude
dos fariseus que rondavam o Templo de Jerusalém. Não havia nenhuma sinceridade
em seu culto, em seus jejuns, em suas orações de pé, à vista de todos, tampouco
em suas esmolas lançadas bem do alto para que as moedas retinissem nas arcadas
do santuário e todos as percebessem... (Cf. Lc 21,1-4)
Por
oposição, Jesus de Nazaré se mostra atraído pela oração daquele publicano
anônimo que se humilha e confessa o próprio pecado (Lc 18,13), e ainda elogia o
publicano Zaqueu, disposto a reparar suas falcatruas, com uma frase de
admiração: “Hoje a salvação entrou nesta casa!” (Lc 19,9) Na contramão de nossa
sociedade, Jesus quer apenas a sinceridade de coração: só os corações que se
abrem à luz podem receber os cuidados do Senhor, que incluem a cura e o perdão.
Os
que parecem bons (escribas e fariseus) são rejeitados. E para escândalo dos
honestos, aqueles que parecem maus (prostitutas e publicanos) ouvem promessas
de salvação. Qual será o nosso grupo?
Orai sem cessar: “Senhor, sabeis tudo de mim...!” (Sl 139,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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