Guardai-vos de
toda cobiça! (Lc 12,13-21)
“A
posse nos faz possessos.” É a pura verdade. Os bens possuídos acabam por
possuir o possuidor. Exigem todo o seu tempo. Tornam-se o centro de suas
atenções. Em resumo, uma autêntica escravidão... A questão de fundo é a dependência.
Todos sabem o que acontece quando um homem se torna dependente do álcool: a
degradação física e moral, a perda dos amigos e da família, a impossibilidade
de trabalhar e de ser útil. Dominado pelo álcool, o dependente perde sua
liberdade, sua volição.
Ora,
há também uma forma de dependência em relação ao dinheiro, aos bens materiais.
Nesta situação, a pessoa vive como se dependesse desses bens. Crê que sua
segurança e seu futuro estão neles fundamentados. Assim, o dinheiro passa a ser
um ídolo, ocupando o pedestal que só caberia a Deus. Um caso de idolatria.
O pior,
porém, é que a cobiça é insaciável, não se detém no meio do caminho. Vazio de
Deus, o coração humano vai buscar sempre mais, na insana tentativa de encher
seu poço interior com outra coisa que não seja o próprio Deus – o Único que
preenche nossos vazios... A cobiça nos faz mesquinhos, fecha nossas mãos à
caridade e à esmola. A cobiça nos leva a proceder como predadores, explorando
os outros para nosso benefício. A cobiça nos pressiona a usurpar os bens dos
outros.
Tão
grave é a cobiça, que o Decálogo reúne no mínimo cinco mandamentos a ela
relacionados: não cobiçar a mulher do próximo, não cobiçar as coisas alheias,
não roubar, não trabalhar no dia de repouso, não cometer adultério. (Cf. Dt 5,6ss.)
Sim, é a cobiça pelo dinheiro que impede alguém de guardar o Dia do Senhor. É a
cobiça sem freios que impele o adúltero a tomar posse de outra mulher, além da
sua própria esposa: “tudo é meu, tudo me pertence, tenho direito a tudo e a
todos!”
Parece
que no sistema capitalista a cobiça é considerada uma autêntica virtude:
fala-se em gente ativa, competitiva, progressista, “locomotivas” da economia,
para designar os empreendedores que fazem do lucro e da eficiência o seu único
objetivo, mesmo ao preço do sangue e do suor da multidão. A voz de Cristo, no
entanto, proclama bem-aventurados os pobres e adverte: “Ai dos ricos!” Deve ser
por isso mesmo que o Evangelho e o capitalismo são incompatíveis...
Procurando
viver o Evangelho de Jesus, o cristão usa dos bens materiais sem a eles se
escravizar. Reparte seus bens, pois somos todos irmãos. Jamais foge de quem lhe
estende as mãos vazias. Agindo assim, imita o Pai do Céu, que dá tudo o que
possui, sem nada cobrar em troca...
Orai sem cessar: “Israel, põe tua esperança no Senhor!” (Sl 130,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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