A minha parte da herança... (Salmo 16 [15])
Quando
faltaram as forças a Jacó, pressentindo a morte próxima, ele disse a José:
“Quanto aos dois filhos que tiveste no Egito, antes de vir para junto de ti, eles
serão meus. Efraim e Manassés serão meus como Rúben e Simeão. Os que te
nascerem depois deles serão teus e em nome de seus irmãos receberão a herança”.
(Gn 48,5-6)
Como
se vê, a herança é para os filhos. É um legado que o pai acumulou em sua vida e
transfere a seus descendentes. Este miktam
(poema) de Davi chega a ser profético quando concentra no próprio Deus a
“herança” que lhe cabe. Mas certamente o rei-cantor não podia imaginar que, no
futuro, o Filho de Deus nasceria de Mulher para que, nele, o Pai nos adotasse
como filhos. Afinal, a herança não é para o escravo da casa...
Cabe
aqui uma reflexão? Que é que nós esperamos de Deus, nosso Pai? Saúde para
trabalhar? Um bom emprego para o marido? A aprovação do filho no vestibular? Um
pé-de-meia para garantir a velhice? Uma vida feliz e tranquila? A morte de
nossos inimigos? Ou seremos mais exigentes?
Santo
Agostinho comenta: “O Senhor é a porção de minha herança e de meu cálice.
Comigo eles possuirão a herança, o próprio Senhor. Outros escolham para sua
fruição, porções terrenas e temporais; a porção dos santos é o Senhor, que é
eterno. Bebam os outros mortíferos prazeres; a porção de meu cálice é o
Senhor”.
No
Evangelho de Marcos (10,17), um jovem chega correndo para perguntar a Jesus:
“Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus poderia ter
respondido: “Seja filho. Viva como filho e, em consequência, terá direito à
herança...”
Tão
simples, e complicamos tanto! Se Deus é nosso Pai e nós vivemos como filhos,
imersos no amor e praticando a obediência, nada e ninguém poderá impedir que a
herança nos seja dada. E mais: ao contrário do que afirmam certas filosofias,
não é uma questão de mérito, é uma questão de amor. O pai nos ama e isto o
impele a se entregar a nós, à imagem de seu Filho, “que nos amou e se entregou
por nós”. (Ef 5,2)
Pregando
o Evangelho aos gentios, em uma sociedade marcada pela indiferença dos deuses
do Olimpo, Paulo precisou insistir na filiação que brotava da fé: “Sabei, pois:
só os que têm fé é que são filhos de Abraão. [...] Assim a bênção de Abraão se
estende aos gentios, em Cristo Jesus, e pela fé recebemos o Espírito
prometido”. (Gl 3,7.14) E ainda: “A prova de que sois filhos é que Deus enviou
aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: ‘Abbá! Pai!’ Portanto, já não és escravo, mas filho, então também
herdeiro por Deus”. (Gl 4,6-7)
Orai sem cessar: “Tu és meu Pai, meu Deus!” (Sl 89,27)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário