O vosso interior... (Lc 11,37-41)
No tempo de
Jesus, o ensinamento dos rabinos incluía estritas normas de “pureza legal”.
Neste Evangelho, o filho do carpinteiro sentou-se à mesa de refeição sem as
tais abluções preparatórias, causando certo escândalo a seu anfitrião. Jesus se
vale da ocasião para lembrar que a pureza interior era a mais importante. E que
de nada vale muita higiene externa, se o íntimo da pessoa cheira mal. Nem
podemos disfarçar a falta de amor com algumas esmolas... Boa oportunidade para
lembrar algo óbvio, que costuma passar despercebido. A pessoa humana tem dois
lados: o exterior e o interior. Claro, ambos devem ser cuidados, mas o interior
é mais importante.
Pode ser que alguém não durma sem
escovar 50 vezes os longos cabelos, elogiados por sua beleza, efeito de uma
cosmética fora do alcance dos pobres. E os cabelos são apenas excreção, como as
unhas e o suor. Será que a mesma pessoa gasta cinco minutos, ao final do dia,
para fazer um exame de consciência e pôr em ordem a sua casa interior? Pode ser
que o homem de meia idade ande preocupado com a queda de seus cabelos, o que
motiva consulta médica e o uso de algum tônico capilar. E do lado de dentro?
Que pensamentos ele alimenta? Que sentimentos ele estimula? Raiva, ódio, falta
de perdão, planos de vingança?
A sociedade
pagã vive de aparências, valoriza o sucesso financeiro, a fama, os bens
acumulados. Não leva em conta se os meios para fazer fortuna incluem a
exploração do próximo. O corpo merece uma espécie de culto religioso.
Proliferam academias de ginástica, aficcionados “malham”, jovens “bombam” os músculos,
corpos modelados com implantes de silicone...
O exercício
físico não é inútil, mas o Apóstolo adverte: “Exercita-te na piedade. Com
efeito, o exercício corporal é de escassa utilidade, ao passo que a piedade é
útil para tudo. Não possui ela a promessa da vida, tanto da vida presente como
da futura?” (1Tm 4,7b-8.) E Jesus acrescenta: “De que vale ao homem ganhar o
mundo inteiro, se vem a perder a sua alma?” (Mt 16,26.)
A passagem
do tempo manifesta o real valor de tudo. A atriz, cuja beleza atraía multidões
ao cinema, ao fim da vida se tranca num apartamento, incapaz de conviver com
suas rugas. O ex-campeão de boxe não domina as mãos trêmulas, ferido pelo Mal
de Parkinson. Enquanto isso, os santos envelhecem em paz, servindo os irmãos
até o último suspiro. Teresa de Calcutá e João Paulo II não me deixam mentir...
Orai sem cessar: “Senhor, tu me sondas e me
conheces.” (Sl 139, 1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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