Hoje estarás comigo... (Lc
23,35-43)
Deus é o Senhor do tempo. Para Ele,
mil anos são como um dia (cf. Sl 90,4). Sendo um Deus eterno, tudo acontece
para Ele em um eterno HOJE. Assim, nossa relação com o Senhor é sempre no
presente. O passado já nos escapou. O futuro, nem sabemos se virá. A cada
instante, vivemos para Deus em seu HOJE.
Foi assim com o ladrão, no Calvário,
ao lado de Jesus. É verdade que nos acostumamos a chamá-lo de “bom ladrão”,
talvez por oculto preconceito contra os demais ladrões. De fato, não havia
muito coisa boa em um homem que passara a vida no crime. O infeliz não
acumulara virtudes que pudesse apresentar a Jesus, na hora extrema, como uma
espécie de fatura a ser cobrada. Em resumo, ele apenas devia... Uma conta
impagável...
Bastou, no entanto, uma simples
petição: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres como rei!” De imediato, ouviu a
resposta: “Ainda HOJE estarás comigo no Paraíso”.
Sei que os honestos protestam: “Não
é justo! Afinal, de que me valeu praticar a virtude? De que me adiantaram
tantos terços rezados em cima de grãos de milho? Que proveito me veio de ter
fugido das farras e bebedeiras, se esse bandido chega ao fim e recebe o
perdão?”
Uma reação típica do filho mais
velho da parábola, incapaz de se alegrar com a acolhida amorosa que o Pai
acabava de dar ao irmão caçula... E a terrível ilusão de que o céu seria algo
merecido e, enfim, concedido por um Deus obrigado a pagar nossos investimentos.
Como se o céu – isto é, a salvação – não fosse pura graça, puro dom!
De passagem, uma observação para
aqueles que ainda creem em reencarnações, como necessário regresso ao mundo
para pagar pecados e crimes de vidas anteriores, até chegar à purificação
produzida pelos sofrimentos. Se existiu alguém, neste mundo, que de fato
precisaria voltar e “pagar”, era aquele miserável ladrão. No entanto, diante de
sua humilde súplica, toda a “conta” foi zerada. Naquele mesmo HOJE, estaria no
Paraíso com Jesus. Como fica, afinal, a crença na reencarnação?
Não se merece a salvação. Não
acumulamos créditos a serem cobrados do Senhor. “É por graça que fostes salvos”
– diz o Apóstolo (cf. Ef 2,5).
Orai sem
cessar: “Junto ao Senhor se acha a misericórdia!” (Sl 130,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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